Conclusão da educação básica e desigualdade racial: avanços que ainda não alcançam todos
No Dia da Consciência Negra, dados mostram que os avanços educacionais ainda seguem marcados por profundas desigualdades raciais.
Por Hubert Alquéres e Rose Neubauer
O estudo Conclusão da Educação Básica: avanços e desigualdades da última década, divulgado pelo Todos Pela Educação, lança luz sobre um tema central para as políticas educacionais: o quanto o Brasil tem sido capaz de garantir que seus jovens concluam o Ensino Fundamental e o Ensino Médio na idade adequada. Os dados mostram avanços consistentes — mas também revelam que esses avanços não têm sido compartilhados de maneira igual entre todos os grupos sociais, especialmente quando observamos o recorte racial.
Entre 2015 e 2025, a taxa de conclusão do Ensino Fundamental até os 16 anos passou de 74,7% para 88,6%. No Ensino Médio, o salto foi de 54,5% para 74,3%. São melhorias significativas, que refletem esforços de gestores, educadores e estudantes. Mas esses números convivem com um dado incomodo: ainda em 2025, um em cada quatro jovens brasileiros não concluiu o Ensino Médio. E essa exclusão não é homogênea — ela tem cor.

A desigualdade racial permanece como uma das dimensões mais resistentes da trajetória escolar. A taxa de conclusão do Ensino Médio é de 81,7% entre estudantes brancos/amarelos, mas cai para 69,5% entre jovens pretos, pardos e indígenas (PPI): uma diferença de 12,2 pontos percentuais. Mesmo com avanços na última década, a projeção é clara: mantido o ritmo atual de redução (0,8 ponto percentual ao ano), o país levará 16 anos para eliminar essa distância. Isso significa que uma criança negra que está hoje no início do Ensino Fundamental ainda viverá, na sua vida escolar, os efeitos dessa desigualdade.

Esses números refletem realidades diversas: condições materiais de vida, acesso desigual à educação infantil, trajetórias escolares interrompidas, necessidade precoce de trabalhar, discriminação e expectativas rebaixadas sobre o desempenho de estudantes negros. No Brasil, a desigualdade racial se manifesta cedo e se acumula ao longo de toda a escolaridade.
Há ainda o peso das desigualdades socioeconômicas, que se sobrepõem às raciais. Entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos, a diferença na conclusão do Ensino Médio caiu de 49,1 para 33,8 pontos percentuais — um avanço, mas insuficiente.

Esses dados também reforçam que as desigualdades socioeconômicas influenciam diretamente as trajetórias escolares: entre os mais pobres, o atraso na trajetória escolar, a necessidade de trabalhar e a perda de interesse têm peso muito maior, ampliando o risco de não conclusão na Educação Básica.
Nesse cenário, São Paulo tem apresentado resultados acima da média nacional, fruto de políticas de longo prazo, avaliações consistentes e redes articuladas. Mas, mesmo aqui, o recorte racial exige vigilância constante: nenhuma política é plenamente bem-sucedida se não enfrentar as desigualdades que separam nossos jovens desde cedo.
No Dia da Consciência Negra, os dados apresentados pelo Todos Pela Educação reforçam um chamado: não haverá equidade educacional no Brasil sem políticas firmes, contínuas e intencionais.
O país avançou — mas a justiça ainda não chegou para todos.
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Hubert Alquéres e Rose Neubauer são membros da Academia Paulista de Educação
