Discurso de Saudação ao Acadêmico Flávio Fava de Moraes.
DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO TITULAR
FLÁVIO FAVA DE MORAES
Pelo Acadêmico Titular João Gualberto de Carvalho Meneses
9/12/2002
Senhores Membros da Mesa, Senhores Acadêmicos, Autoridades, Familiares, Amigos e Convidados,
Senhoras e Senhores,
Prezado Professor Fava:
Mais uma vez esta Academia engalana-se para dar posse a um novo Acadêmico Titular. É um momento de júbilo e de emoção. Nossa Academia Paulista de Educação foi fundada em 17 de abril de 1970, por 40 educadores que escolheram, para cada uma das quarenta cadeiras então criadas, de números de 1 a 40, o seu respectivo Patrono, seguindo o modelo das tradicionais academias. A iniciativa partiu de um grupo de educadores, mas o verdadeiro impulsionador da ideia foi o Professor Aquiles Archero Junior, que abriu a lista das cadeiras, sendo sua a Cadeira nº 1, e escolheu para seu Patrono o emérito educador e reconhecido gramático Eduardo Carlos Pereira. As novas instituições, de um modo geral, até que se enraízem, passam por tempos heroicos, na luta pela sobrevivência. E aí precisam de heróis para alimentá-las e cuidá-las, ao crescer. O grande herói desta Academia foi o incansável Archero. Não consegui encontrar melhor qualificativo para retratar aquela sua faina pertinaz, em todas as atividades em que se envolvia. Ainda está visível em minha memória a sua figura, naquele velho prédio da Rua Líbero Badaró, esquina da Avenida São João, na Escola Universitária de São Paulo, na qual inaugurou cursos por correspondência e preparatórios para concursos, produzindo apostilas didáticas e imprimindo-as em seu mimeógrafo. Ou em sua sonhada Universidade Livre Presidente Roosevelt. E na sua querida Academia…
Trinta e dois anos já se passaram depois de sua fundação. Mas para que esse grupo criou esta Academia? A nossa Academia Paulista de Educação tem como objetivos, dentre outros, “congregar educadores interessados nos problemas educacionais do Estado e do País, proporcionando-lhes condições de livre debate de ideias”. Como estabelecem os Estatutos, a cerimônia que ora se realiza cumpre o ritual de continuidade às atividades do sodalício. Eleito o sucessor do ocupante da Cadeira, dá-se-lhe a posse como acadêmico titular.
No presente momento de sua criação a Academia contou, principalmente, com professores da rede escolar pública estadual paulista. Eram professores primários e secundários, inspetores escolares, delegados de ensino, autores de obras didáticas, autoridades escolares. A “velha guarda” do magistério, como eram carinhosamente chamados, quase todos (especialmente as mulheres) com passagem pela antiga Escola Normal e pela docência na escola primária ou secundária. A criação da Universidade de São Paulo e sua atuação no campo do ensino superior e na pesquisa original acarretou, em pouco tempo, seu prestígio nacional e internacional. Os acadêmicos fundadores vão, então, nas sucessivas vacâncias das cadeiras, buscar para o seu provimento destacados professores universitários e novas lideranças educacionais. Em seu quadro atual, mais da metade dos acadêmicos titulares está ou passou pela USP.
Hoje a Academia recebe o Professor Doutor Flávio Fava de Moraes, que se empossa na Cadeira nº 1, cujo patrono é Eduardo Carlos Pereira, e sucede ao saudoso Acadêmico Titular Aquiles Archero Junior. Assim, o Acadêmico Fava ocupa a Cadeira do Fundador desta Academia. Neste momento estamos tendo a honra de receber em nossa Academia um uspiano de primeira linha, o Professor Fava, com as marcas de professor e de cientista pesquisador. Coube-me, nesta solenidade, a distinguida honra de saudá-lo, em nome dos acadêmicos.
Professor Fava, Acadêmicos, Senhoras e Senhores:
Temos por aqui um Regimento que dita as regras desta Sessão Solene. Estabelece ele que deve saudar o recipiendário (este é o termo usado para se referir ao novo acadêmico), apresentando o seu currículo. Para isso, diz o Regimento, disponho de quinze minutos. Evidentemente, não dá para fazê-lo, nestes poucos minutos. Resta-me, então, protocolarmente, percorrer alguns trechos de sua trajetória acadêmica, referindo-me por instantes a alguns de seus inúmeros trabalhos.
Graduado em Odontologia, em seguida vai para o Departamento de Histologia do Instituto de Ciências Biomédicas, onde desenvolve sua carreira de Assistente a Professor Titular. Neste Departamento dedica-se ao ensino de graduação e de pós-graduação; orientou mais de 20 teses de mestrado e doutorado. Em seu currículo resumido constam 105 cursos extracurriculares ministrados; 147 simpósios, palestras e conferências; 91 participações em bancas de concursos; 11 prêmios recebidos, sendo 5 internacionais. Participou de atividades de ensino, científicas e tecnológicas em 39 países, num total de 93 participações no Exterior. Durante dois anos foi Professor Visitante na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos (1971-1972).
Convém ressaltar que o Professor Fava de Moraes é um cientista, com trabalhos pioneiros e originais no campo da Histologia. Produziu 67 trabalhos de pesquisa no Brasil e 60 no exterior, em um total de 127 trabalhos de pesquisa científica. Está citado em 256 revistas e 52 livros, num total de 308 citações. Suas atividades no campo das pesquisas, aliadas às suas habilidades de liderança, levaram-no ao cargo de Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas. Foi o primeiro latino-americano a receber o Prêmio de Pesquisa W. G. GIES Foundation Research Award.
Devo também fazer referência a outras atividades de nosso novo acadêmico. A FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – é, certamente, a mais importante agência de desenvolvimento da pesquisa do Brasil, reconhecida pelo mundo científico internacional. A sua manutenção com recursos financeiros próprios fixados pela Constituição Estadual foi e é condição decisiva para a produção de estudos e pesquisas em São Paulo. Sem a ajuda da Fundação, pesquisadores individuais, bolsistas e centros de pesquisa não teriam a possibilidade de realização de suas pesquisas, em número e qualidade. No entanto, como tem sido anotado constantemente, além de recursos financeiros, é necessário estabelecer prioridades em suas aplicações e investi-los com eficiência. O Professor Flávio Fava de Moraes já vinha se revelando um administrador capaz como Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas. Tal qualidade ficou claramente evidenciada em suas gestões como Diretor Científico da FAPESP, quando conseguiu aliar providências técnicas e administrativas que ampliaram as condições de funcionamento da Fundação. Novos critérios de prioridades nos investimentos das pesquisas e eficiência na aplicação dos recursos.
Exerceu, também, o cargo de Diretor Executivo da FUVEST. Atualmente é Vice-Presidente da Associação Internacional de Universidades/UNESCO/Paris. Tais habilidades, certamente, fizeram-no candidato natural ao cargo de Reitor da Universidade de São Paulo, no qual deixou importantes marcas em sua gestão. Reorganizou o campus da Cidade Universitária e os campi universitários do interior do Estado; os museus da USP tiveram cuidado especial; incentivou os projetos de pesquisa, em todas as unidades; desenvolveu amplo programa de aperfeiçoamento profissional, o PAE; manteve estreitas relações com a comunidade; estabeleceu a rotina de reuniões dos órgãos colegiados da Universidade, assinalando com a sua assídua presença as sessões do Conselho Universitário; cuidou com esmero da questão financeira, que vinha sendo prejudicada pelas sucessivas quedas de arrecadação do ICMS; mas, nem por isso, deixou de manter e ampliar os programas de reformas e construções. É unânime a opinião de que o Reitor Fava administra com seriedade, competência e, sobretudo, com austeridade. “O Professor Fava exerce o poder com tranquilidade”, são palavras da nossa acadêmica Myriam, que foi Vice-Reitora na gestão Fava.
Outra iniciativa feliz e oportuna consistiu em seu empenho junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, para trazer para a Universidade a Cátedra da UNESCO para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, formalizada em 1996, tendo indicado para seu Coordenador o Professor Doutor José Mário Pires Azanha, nosso confrade Acadêmico Titular. Essa foi a primeira Cátedra sediada em país de língua portuguesa.
Ao término de seu mandato de Reitor, o Professor foi nomeado Secretário de Estado da Ciência e Tecnologia pelo Governador Covas, que não podia e nem queria dispensar a presença do nosso novo Acadêmico em seu Governo. Aliás, seguidamente, Covas o nomeou ainda Assessor Especial, Conselheiro do Conselho Estadual de Educação e Diretor Executivo da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, o SEADE, na qual se encontra como seu Diretor Executivo.
Acabei por conhecer melhor o Professor Fava, nestes últimos tempos, no Conselho Estadual de Educação. Na Câmara de Educação Superior e nas Sessões do Conselho Pleno muito pude aprender com sua valiosa experiência, inegável competência e seu exemplar comportamento de cidadão e de afável amigo. Nas Sessões do Conselho Pleno a presença do Conselheiro Fava sempre foi além da costumeira pertinência normativa, sempre revestida de altas doses de sábias ponderações e sempre atendendo aos mais legítimos interesses educacionais. As Sessões do Conselho Pleno, naturalmente, sempre se revestem de formalidades que o regimento impõe. É, pois, nas Câmaras que os conselheiros comentam com mais naturalidade os temas em pauta. Pois foi nas sessões da Câmara de Educação Superior que pude testemunhar a atuação do Conselheiro Fava em seus apropriados Pareceres e Indicações, em suas opiniões claras e objetivas (digamos, didáticas), em seu respeito pelos colegas, numa atitude de humildade intelectual que caracteriza os grandes educadores e as grandes figuras da humanidade. Devo ressaltar neste momento sua indefectível defesa do ensino público e seu compromisso com o ensino democrático e de qualidade. Sem dúvida, outros episódios da trajetória do Acadêmico Fava poderiam ser trazidos para desenhar o seu perfil de educador.
Acadêmico Fava:
Desculpe-me por não ter ressaltado por inteiro o seu trabalho. Creio, entretanto, que seus familiares e os seus amigos conhecem bem as suas virtudes e que todos reconhecemos os méritos que o trazem a esta Academia. Todos nós, seus confrades, sentimo-nos muito honrados com a sua vinda para o nosso convívio fraternal, na certeza de seu enriquecimento, com a sua presença.
Bem vindo, Acadêmico Titular Flávio Fava de Moraes.