Lajolo e a formação da leitura no Brasil

O livro “A Formação da Leitura no Brasil”, de Marisa Lajolo e Regina Zilberman, oferece uma análise aprofundada sobre o desenvolvimento das práticas de leitura no país. As autoras traçam a trajetória desde o período colonial até meados do século XIX, destacando fatores que influenciaram a consolidação de um público leitor no Brasil. Marisa Lajolo procurou fazer “um traçado consistente do nascimento, da consolidação e das transformações das práticas de leitura da sociedade brasileira, sem ignorar o fato de que cada época, cada obra e cada autor trazem consigo características próprias”.
Entre os aspectos abordados, está a questão do preço do livro, uma preocupação que remonta ao século XIX e que permanece atual.
Em uma crônica de 1840, Santiago Nunes Ribeiro já expressava incômodo com o custo elevado dos livros. Hoje, essa percepção persiste entre leitores e estudantes, que frequentemente apontam o preço como uma barreira ao acesso à leitura. No entanto, dados recentes oferecem uma perspectiva mais complexa sobre essa questão.
De acordo com a pesquisa “Panorama do Consumo de Livros”, realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pela Nielsen BookData, o preço médio do livro no país caiu 36% em termos reais desde 2006. Além disso, o estudo revelou que uma parcela significativa dos consumidores não considera o livro nem barato nem caro. Especificamente, 48% dos entrevistados classificaram os livros de entretenimento e lazer dessa forma, enquanto 40% tiveram a mesma percepção em relação aos livros infantis e juvenis.
Por outro lado, os livros escolares e os voltados para aprimoramento pessoal e profissional foram considerados caros pela maioria dos entrevistados, com 55% e 41%, respectivamente, expressando essa opinião.
Esses dados sugerem que a percepção sobre o preço dos livros varia conforme o segmento e o público-alvo. Enquanto alguns gêneros são vistos como acessíveis, outros ainda enfrentam a barreira do custo elevado. Portanto, embora a impressão de muitos seja de que os livros não são caros, é importante reconhecer que essa percepção não é universal e que fatores como o tipo de livro e o perfil do leitor influenciam significativamente essa avaliação.
Além disso, outro aspecto relevante para a discussão do acesso à leitura no Brasil é a formação de novos leitores. A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, conduzida pelo Instituto Pró-Livro, apontou uma redução no número de leitores no país, indicando que 53% dos brasileiros não leram nenhum livro nos três meses anteriores ao levantamento. Esse dado sugere que o preço, embora um fator relevante, não é o único obstáculo para o crescimento do hábito da leitura. Questões como a falta de tempo, o incentivo à leitura na infância e a presença do livro no cotidiano das pessoas também exercem influência direta sobre esse cenário.
Dessa forma, a ampliação do acesso ao livro e o fortalecimento da cultura leitora no Brasil demandam iniciativas que vão além da redução de preços. Para Hubert Alquéres, presidente da Academia Paulista de Educação e vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro, “são fundamentais políticas públicas, programas de incentivo e a valorização da leitura no ambiente escolar e familiar”. Para ele, “a disponibilidade de livros acessíveis é fundamental, mas tornar o Brasil um país de leitores exige um esforço coletivo que passe pela educação, pela difusão da leitura como prática cultural e pelo reconhecimento do livro como um bem essencial.”