A educação brasileira perde Gilda Gouvêa
Gilda Figueiredo Portugal Gouvêa foi professora do Departamento de Sociologia da Unicamp.
Sua longa produção trata de temas como administração pública e políticas educacionais. Como professora, Gilda atuou por décadas no campo da Sociologia Clássica tendo contribuído na formação de gerações de estudantes na graduação e na pós-graduação.
Integrou o Conselho Superior do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp e atuou por décadas no Centro Ruth Cardoso. Graduada em Ciências Sociais pela PUC-SP (1967), realizou mestrado em Ciências Humanas pela USP (1971) e doutorou-se em Ciências Sociais pela Unicamp (1994).
Foi Chefe de Gabinete da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (1984-1985) no Governo Franco Montoro e atuou, também, como Secretária-Executiva do Ministério da Educação (MEC) em 1995, tendo sido também Ministra da Educação interina no Governo Fernando Henrique Cardoso. Ainda no MEC, atuou como Assessora Especial do Ministro da Educação Paulo Renato Sousa entre 1999 e 2002.
Leia aqui uma entrevista de Gilda Portugal Gouvêa.
Repercussões
“Tive o privilégio de conviver com este ser humano admirável e educadora exemplar que foi Gilda Portugal Gouvêa. Era dona de uma inteligência ímpar, com tremenda sensibilidade política e carinho pelas pessoas. Formuladora de políticas públicas para a educação, esteve ao lado de figuras notáveis da política brasileira como Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, José Serra, Ruh Cardoso. Fez parte do grupo que deu grande avanço à educação pública brasileira e do qual faziam parte Paulo Renato Sousa, Maria Helena Guimarães, Eunice Duham, Iara Prado e tantos outros. Vai fazer muita falta”, Hubert Alquéres, presidente da Academia Paulista de Educação.
“A Fundação FHC lamenta o falecimento de Gilda Portugal Gouvêa, que por anos integrou o conselho curador da instituição. Amiga querida de Fernando Henrique Cardoso, Gilda esteve ao seu lado desde a campanha ao Senado em 1978. Em seu governo, ocupou cargos de assessoria no MEC, ao lado do saudoso ministro Paulo Renato. Gilda foi uma mulher extraordinária, que nunca se deixou abater pelas limitações físicas que a acometeram desde cedo, nem quando se agravaram. Conciliou a vocação acadêmica com a vocação pela vida pública. Considerava-se acima de tudo uma professora e tinha imenso orgulho do pai, servidor público exemplar. Manteve uma coerência política e uma fé admiráveis na luta por um Brasil mais justo, democrático e desenvolvido. O presidente Fernando Henrique perde uma amiga, a Fundação FHC, uma colaboradora, e o São Paulo Futebol Clube, uma torcedora apaixonada.”, Fundação FHC.
“Muito triste. Conheci Gilda há 46 anos quando estudava na mesma escola que ela, o colégio Sacre Coeur. Trabalhamos juntas na Unicamp e no governo FHC. Moramos no mesmo prédio em Brasília. Muita saudade.”, Maria Helena Guimarães e Castro, Acadêmica, foi presidente do INEP, secretária executiva do MEC e Secretária de Educação em São Paulo. Preside a ABAVE, é titular da Cátedra Ayrton Senna do Instituto de Estudos Avançados da USP e também conselheira no Conselho Estadual de Educação.
“Lutadora incansável por uma escola pública de qualidade para todos. Perda para a educação brasileira.”, Rose Neubauer, Acadêmica, foi Secretária Estadual de Educação e Presidente do Conselho Municipal de Educação de SP.
“Quero homenagear a querida amiga Gilda Portugal Gouveia que faleceu hoje. Gilda era um ser humano maravilhoso, uma professora de sociologia cujos méritos eram reconhecidos por seus alunos e colegas, mas sobretudo Gilda foi uma extraordinária militante em defesa dos direitos humanos e da democracia. Ela foi uma pessoa extraordinária, a conhecia ela desde 1963, quando fui eleito presidente da UPES, com seu apoio. Como cheguei sozinho em São Paulo para dirigir a UPES (ao mesmo tempo que o Serra dirigia a UEE), Gilda me deu um apoio generoso para facilitar a minha integração em sp. E depois disso militamos juntos no MDB, e em outras ocasiões. Gilda era de uma enorme generosidade e compartilhava tudo. Presto minha homenagem expressando meus sentimentos aos seus familiares e amigos”, José Álvaro Moisés, cientista político.
“Gilda foi atuante e uma mulher corajosa. Uma grande perda!”, Bernardete Gatti, Acadêmica e titular da Cátedra Alfredo Bosi do Instituto de Estudos Avançados da USP.
“Junto- me a vocês nesse momento, que é de luto para todos nós. Pela militância, pela coerência política, pela generosidade – e pelo humor. Coordenei a pesquisa que serviu de base a seu doutorado – estivemos juntas no Conselho do Centro Ruth Cardoso, que presidi nos anos iniciais. Incansável sempre.”, Lourdes Sola, socióloga, pesquisadora, cientista política e titular da Academia Brasileira de Ciências na área de Ciências Sociais.
“Professora Gilda Figueiredo Portugal Gouvêa nos deixou. Ou General Gouvêa como Paulo Renato gostava de chamar. Sempre racional, equilibrada, dedicada, agregadora e leal. Sempre me marcou com sua força e determinação, ia dirigindo toda semana para Unicamp, dar aula e orientar seus estudantes. Trabalhamos juntos na Secretaria Estadual da Educação, com os secretários Maria Helena Guimarães de Castro e Paulo Renato Costa Souza. Sempre aprendi muito com a Gilda, fará muita falta”, Fernando Padula, Secretário Municipal de Educação de São Paulo.
“Com a Gilda vai-se um pedaço da nossa história na educação! Uma perda dolorosa para todos nós!”, Guiomar Namo de Mello, Acadêmica, foi Deputada Estadual Constituinte e Secretária Municipal de Educação de SP.
“Grande perda! O irmão da Gilda foi presidente do SPFC, quando eu presidia o Conselhos dos Cardeais do Clube. Meus pêsames à família e à Academia”, Ives Gandra da Silva Martins, jurista.
“Sábado muito triste. Perdemos a Gilda. Que seja confortada e bem acolhida onde estiver. Quando estive no MEC, tive oportunidade de avaliar de perto sua luta em prol da educação pública com qualidade social. Gilda vai fazer muita falta.”, João Cardoso Palma Filho, Acadêmico, foi Secretário Executivo da Secretaria Estadual de Educação de SP.
“Grande perda para a educação, para as ciências sociais, para a vida política, para a amizade, para os amigos!”, Carlos Vogt, Acadêmico, foi Reitor da Universidade de Campinas-UNICAMP.
“Uma tristeza! Convivi com Gilda muitos anos, até agora, no Conselho da FECAP. Pessoa admirável, sempre com contribuições significativas.”, Mauro de Salles Aguiar, Acadêmico Honorário, Conselheiro no Conselho Estadual de Educação.
“Hoje, com grande pesar, me despeço da minha amiga, professora, mentora e orientadora, Gilda Portugal Gouvêa. Uma das mulheres mais inteligentes e generosas que tive o privilégio de conhecer. Sua sabedoria me ensinou tanto e seu apoio foi crucial nos momentos mais desafiadores da minha vida profissional. Gilda era uma guerreira, sempre lutando pelas boas causas. Foi através dela que tive o privilégio de conhecer e me tornar amigo do Ministro da Educação Paulo Renato Souza. Muito do que construí em minha trajetória devo a ela. Sua presença iluminava os caminhos por onde passava, e sua ausência deixará um vazio imenso. Que descanse em paz, querida Gilda. Seu legado de conhecimento, generosidade e luta continuará vivo em todos que tiveram a sorte de partilhar da sua história”, Floriano Pesaro, foi deputado Federal.
“Gilda foi militante histórica do MDB, que era a expressão da frente democrática que nos levou ao fim da ditadura, quadro fundador da socialdemocracia brasileira, respeitadíssima por FHC, Ruth Cardoso, Serra, entre outros. A democracia e a Educação foram as suas duas grandes causas. Torcedora roxa do São Paulo – seu irmão foi presidente do São Paulo – era respeitada pela intelectualidade brasileira e no mundo acadêmico. Tive a honra de ser seu companheiro de trabalho, na assessoria de Paulo Renato, quando este foi deputado federal.”, Tiberio Canuto, Jornalista.
“Que notícia triste. Faleceu hoje pela manhã a professora e militante histórica das causas mais nobres no regime democrático, Gilda Portugal Gouvea. Professora Gilda foi uma das fundadoras do PSDB, contribuiu muito durante os Governos do partido em SP e no DF, especialmente na área da Educação, tanto nas gestões de FHC na Presidência da República e de José Serra no Governo Estadual. Também foi uma guerreira da liberdade pelo saber, alguém com excelência acadêmica e prática na Educação. Deixa um importante legado. Tive a felicidade de conviver com ela, sempre fui amigo da família Portugal Gouvêa.
Gilda vinha doente há algum tempo, sofrendo muito. Passou seus últimos dias no Hospital Israelita Albert Einstein. Estamos todos mais pobres.”, Ricardo Viveiros, Acadêmico, jornalista e escritor.
“Perdemos, aos 80 anos, uma personalidade da maior relevância dentro da história contemporânea de nossa educação. Conheci a Professora Gilda em 1995/6 em uma reunião no gabinete de nosso Confrade Paulo Renato Souza, então Ministro da Educação. Impressionou-me a participação inspirada da Educadora com grande sensibilidade política e alcance estratégico. Perdem os amigos, perde a Educação Brasileira que continua buscando novos talentos à altura da Grande Gilda”, Wander Soares, foi presidente da Academia Paulista de Educação.
“Ela sempre foi muito generosa em compartilhar a sua vasta experiência. Uma figura muito querida.”, Jair Ribeiro, conselheiro no Conselho Estadual de Educação.
“Que tristeza. Os baluartes antigos da Educação estão nos deixando. Que Deus a tenha.”, Fabio Romeu de Carvalho, Acadêmico, foi diretor do Colégio Objetivo.
“Hoje Gilda Portugal Gouveia foi embora. Ficamos amigas no começo dos anos 1970, quando voltei do Chile e ela dos Estados Unidos. E assim continuamos vida a fora. Tenho muitas lembranças dela, mas a primeira que me vem à cabeça é de uma cena que não presenciei — me foi contada por seu primo Manoel Berlinck. Gilda atravessando, decidida, um longo trecho coberto de neve para ir à biblioteca da Universidade Cornell, onde fez seu doutorado. Travessia difícil para qualquer um, muito mais para ela. Porque Gilda era assim: forte e decidida a vencer obstáculos de muitos tipos. Ela era também uma pessoa que acolhia e era capaz de juntar pessoas de diferentes inclinações políticas. No momento de maior crispação política, na década passada, a festa de casamento de sua filha Tininha parecia uma reunião da frente ampla que era possível acontecer apenas ali. Todos que a conheceram sabem que ela era mandona: suas ordens eram firmes e inapeláveis. E a elas se obedecia com gosto, talvez porque sempre viessem acompanhadas de um sorriso. Nesse período longo de sono até a partida, eu muitas vezes pensei que ela iria acordar de repente, para nossa surpresa, e começar a dar ordens outra vez. Vai fazer muita falta para as pessoas que tiveram a sorte de ter sua amizade. Eu sou uma delas.”, Maria Hermínia Tavares de Almeida, é cientista política, socióloga e professora universitária brasileira.
“Com enorme tristeza a ANPOCS se junta às manifestações de pesar pelo falecimento de Gilda Figueiredo Portugal Gouvêa”, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).
“Foi com muita tristeza que soube da morte de Gilda Gouvea. Pessoa incrível, com propósito. Ela me amadrinhou quando cheguei, perdidão, em Ithaca, New York. Gilda já estava em Cornell. Me ensinou a cidade, me acompanhou para fazer meu “enxoval”. Minha admiração e meu afeto por ela têm décadas. Aqui, no Face, nos falávamos com frequência e ela sempre generosa e gentil, acompanhando o que faço. Saudades imensas.”, Sérgio Abranches é cientista político, professor universitário e analista político.
“Profa. Gilda será sempre uma referência na educação brasileira.”, Rosângela Ferrini, ex-presidente da APASE e Conselheira no Conselho Estadual de Educação.
“Quando eu conheci pessoalmente a Gilda em junho de 1994, ja sabia da trajetória dela na história da redemocratização do país. Fui levada para a campanha de FHC pela Maria Helena Gregori e Miguel Reali JR. Gilda tinha sua equipe e nos primeiros dias não me deu tanta bola, mas logo depois, tenho a honra e privilégio de dizer que ficamos amigas, nos demos muito bem na campanha e posso dizer que nos tornamos amigas mesmo. Uma vez ela foi operada e eu dormi com ela no hospital e há pouco tempo, outra vez ia fazer companhia durante o dia. Na campanha de 2002, ela em Brasilia me colocou na campanha do Serra x Lula para ser seu braço direito – que honra! Mas não dei muita conta, não sei mandar e não consegui me impor, Floriano Pesaro veio me substituir, mas ouvi dela conselhos, lições e carinhos que nunca esquecerei. São tantas as lembranças transbordando na tristeza e saudade que já sinto que só posso chorar. Vai em paz minha querida Gilda, o mundo hoje esta mais feio. Você na dedicatória do seu livro disse que eu era a “alegria da campanha “ pudera, eu estava ao lado de duas mulheres admiráveis, Maria Helena Guimarães e você. Hoje, juntas com a sua querida Ruth Cardoso, olhem esse nosso pobre pais, nossa pobre politica”, Pituca Cecília Alcântara, amiga e colaboradora.
“Infelizmente, perdemos a educadora, cientista social, minha colega como professora na PUC, Gilda Gouvea, minha amiga de longa data. Vai fazer muita falta! Todo meu carinho à Tininha e aos demais amigos.”, Claudia Costin foi Secretária Municipal de Educação no Rio de Janeiro e é consultora na área da Educação.
“Eu queria estar me despedindo de Gilda junto com Tininha e seus muitos amigos. Não vou poder ir lá.
Compartilho com eles aqui a tristeza de perder Gilda e a alegria de ter sido seu amigo. Ela foi como uma irmã mais velha para mim. Mais velha, não pela idade, mas pelo discernimento e força que sempre me passou. Sem perder o humor jamais”, Eduardo Graeff, mestre em ciência política pela USP. Foi subchefe da Casa Civil para Assuntos Parlamentares e Secretário-Geral da Presidência da República no governo FHC. Coordenou o escritório de representação de São Paulo em Brasília no governo José Serra.
“Faleceu a Professora Gilda Portugal Gouvêa, que conheci quando me aproximei da Fundação FHC e do Centro Ruth Cardoso. Estimulado por ela e pelo ex-Deputado Federal Arnaldo Madeira, organizei uma série de debates e discussões sobre política e economia. Tudo abrigado pelo Centro Ruth Cardoso, onde ela atuava como curadora. Recebemos, na época, entre 2014 e 2016, José Roberto Mendonça de Barros, Antônio Delfim Netto, José Arthur Giannotti, José Márcio Camargo, Gesner Oliveira, Armínio Fraga, Samuel Pessoa, Bresser-Pereira e outros. Gilda era uma festa. Ela tinha um espírito público gigantesco, me estimulou muito a ir para Brasília trabalhar com o Senador José Serra, em 2015, e tinha uma vontade de mobilizar e reunir pessoas para pensar o Brasil. Muito triste pela notícia. Que sua família se sinta abraçada e acolhida neste momento difícil. Professora Gilda, obrigado por tudo!”, Felipe Salto, foi secretário estadual da Fazenda em São Paulo.
“Quero dizer da tristeza na manhã deste sábado (21/9), logo que soube do falecimento em São Paulo da Gilda Gouvea, amiga querida desde o início dos anos 1980. Professora, pesquisadora, ativista de políticas públicas na área da educação, com quem tive o orgulho incomensurável de trabalhar junto em São Paulo e Brasília no Ministério da Educação (gestão do saudoso Paulo Renato Souza, no governo do presidente FHC) e na direção do ISD – Instituto Social Democrata; sempre fui seu aprendiz e nos amamos como amigos desde quando nos conhecemos. Como disse o amigo comum Abílio Baeta, Gilda teve uma “vida de sofrimento e persistência, convicções e um coração de pura solidariedade”. Descanse em paz, Gildinha! Saudades!”, Raul Christiano, é Secretário Executivo da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo.
“Genial Gilda! Vai se juntar ao querido irmão Marcelo. Foi esposa de meu primo, Roberto Mario Perosa. Deus há receba com alegria. Pensadora de uma época que a pureza de pensamentos e ideais eram honestos!!!! Não temos “reposição”, para esta geração heróica, muuuuuito culta e inteligente. Faz nos ver um deserto de pessoas públicas vãs e vazias”, Alfredo de Simone Neto, amigo.
“Faleceu nesse sábado (21), aos 80 anos, a prof Gilda Portugal Gouveia. Perdi uma grande amiga e conselheira, uma mulher admirável, resiliente, lutadora, idealista. Muito próxima de Ruth Cardoso e Fernando Henrique, foi braço direito de Paulo Renato no MEC. José Serra também a consultava para quase tudo. Nossa, Gilda era muito bacana, um ícone da política social democrata.”, Xico Graziano, foi Secretário Estadual de Agricultura em São Paulo.
“Lamento profundamente o falecimento da queridíssima Gilda Figueiredo Portugal Gouvea que trabalhou com o Ministro Da Educação do Governo Fernando Henrique, Paulo Renato Souza, o mais longevo e competente Ministro da Educação do Brasil. Amiga de FHC e Ruth Cardoso, Gilda integrava um círculo próximo de intelectuais importantes tucanos. José Serra também era próximo de Gilda e costumava consultá-la sempre que queria ouvir a opinião de alguém sobre um assunto importante. São-paulina “roxa” como eu, me mandava mensagens sobre política e claro, também mencionando o nosso time, São Paulo FC, clube do qual seu irmão, Marcelo Figueiredo Portugal Gouvea, saudoso amigo e meu colega no Conselho Deliberativo do Esporte Clube Pinheiros foi o mais vitorioso Presidente da história do São Paulo Futebol Clube (Campeão Paulista, Brasileiro, Libertadores e Mundial)”, Luiz Eduardo Cardia, amigo.
“Depois de um seminário sobre o Brasil, no final dos anos 80, houve uma confraternização na casa de Paulo Renato, Reitor da Unicamp. Pouca gente, fim de tarde todos cansados e Paulo resolveu assar uma de suas fabulosas carnes. Além do churrasqueiro, estavam Carlos Vogt, João Manuel e eu, na cozinha, bebericando e apoiando moralmente aquele que se esfalfava diante do fogo e, obviamente, falando mal dos outros. Foi quando ouvimos um grande tumulto vindo da sala. Corremos todos para lá! O conflito era entre Almino Afonso e Celso Furtado que discutiam, com força, empenho e amor, e muita agressividade. os caminhos do Brasil. Tal era o entusiasmo e braveza dos dois, que quase chegaram às vias de fato, não fosse por Gilda Figueiredo Portugal Gouvea, corajosa e com autoridade, que levantando-se de sua cadeira de rodas ficou entre eles e apaziguou os ânimos. Eles “brigavam”, inteiramente convictos cada qual de suas proposições, por causa do Brasil, de seu povo, de nosso destino! Dois sentimentos contraditórios que surgem dessa lembrança: além da emoção da grandeza desses dois homens, lembrar-me que tivemos líderes e intelectuais desse porte e que depois, o Brasil deixou de produzir gente assim”, Gera Di Giovanni, amigo.
“O dia chuvoso e cinza faz jus à tristeza da ocasião: hoje faleceu uma das pessoas que mais respeitei e amei na vida, a querida Gilda Gouvea. Mulher forte, sensível, intelectual comprometida com a ação e com o bem público, me deu a honra de sua amizade e sabedoria desde os primeiros tempos da graduação. Me orientou no IC e no mestrado, mas me proibiu de seguir com ela no doutorado: AC (como me chamava), vai fazer pesquisa com outro professor, para ver outras formas de orientação. Sábio conselho. Quase sempre discordamos em termos político-partidários, mantivemos as afinidades naturais de dois apaixonados pelo São Paulo Futebol Clube – Gilda era irmã de Marcelo Portugal Gouvêa, um dos mais vitoriosos presidentes do clube, e mesmo a distância seguíamos em contato constante. Lembro-me da festa de arromba que Gilda deu ao completar 60 anos, em 2004. A fina flor da elite paulistana (e do PSDB) no Circolo Italiano San Paolo, ela exuberante em seu carrinho elétrico, bailando pelo salão. Eu, então estudante de graduação, não sabia muito bem o que fazer em meio a tanto político “importante”. A festa de 70 anos (Gilda justificava as festas daquele naipe pois comemorava a cada década) foi mais modesta, porém também linda. A de 80 foi uma comemoração discreta, apenas para os mais próximos. Gilda, então avó de dois meninos, já estava às voltas com a gravidade dos problemas de saúde que a acompanharam vida afora. Tininha, a filha querida, preencheu como ninguém a sua existência. Estou para ver alguém que a tenha conhecido e que não tenha só as melhores coisas a dizer. Militante na Ação Popular na juventude, atuante no período ditatorial, viveu nos EUA e no Chile para, na volta ao Brasil, se dedicar intensamente à vida política, especialmente em parcerias com FHC. Mantinha livre trânsito de ideias com as esquerdas de todos os espectros, tendo orientado inclusive tese sobre Marx – ríamos muito destas idiossincrasias. Amava, assim como seu amigo José de Souza Martins, a música caipira. Nutria amizade e respeito inabaláveis por Dona Ruth Cardoso, de cuja Fundação cuidou desde os primeiros dias. Finalizo esta singela homenagem com uma lembrança e com uma promessa que não pude cumprir. Estava em período de estágio de doutorado em Paris e Gilda nos convidou, a mim e minha companheira, para irmos ao Les Deux Magots, mas com a seguinte condição: ai de vocês se ousarem encostar as mãos na conta! Eu sempre dizia que a “a próxima do Deux Magots é por minha conta”. Nos encontramos anos depois em Paris, mas acabou que fizemos outro roteiro. Minha mãezinha dizia que Gilda era minha segunda mãe; dona Maria de Lourdes nunca esquecera de tudo, tudo que ela fez por mim. Eu, tampouco.”, Antonio Carlos Dias Junior, ex-aluno e professor na Faculdade de Educação da UNICAMP.
“Soube, com muito pesar, do falecimento da minha querida amiga, orientadora de doutorado, Gilda Figueiredo Portugal Gouvea, no último dia 21 de setembro. Gildinha e eu compartilhamos muitas coisas além da parceria acadêmica e um sobrenome em comum. Falávamos de futebol, ela era são-paulina, política – dos bastidores de quando ela trabalhava no MEC, foi ministra interina da educação, se orgulhava de falar e mostrar a foto que tirou em sua sala com Fidel Castro. Tínhamos matrizes políticas e teóricas diferentes, mas talvez eu nunca tenha sido tão respeitado teórico e politicamente na academia como fui por Gilda. No momento mais difícil do meu doutorado, quando estava sem orientação, ela me acolheu, aceitou me orientar, estudar o tema comigo. Logo vasculhou sua biblioteca e chegou cheia de livros, Bresser Pereira, reforma do Estado etc. Seguimos até o final, defendi meu doutorado sob sua orientação, um dos últimos orientados por ela. Há dois meses nos falamos no WhatsApp, me dizia que o corpo dela já não respondia muito, estava muito difícil fisicamente, mas que a mente estava boa, e que ela preferia que fosse assim, com lucidez e cognição até o final. Ainda pediu meu lattes atualizado, queria ver o que eu andava fazendo, se atualizar da minha trajetória após o doutorado.”, Igor Figueiredo, ex-aluno.