Artigo – Leitura, livros, educação e plataformas

Por Wander Soares
A leitura habitual e o prazer que ela proporciona tem sido objeto de minhas cogitações em face do crescimento dos meios eletrônicos de transmissão de textos. Há em nosso país uma série de entidades e iniciativas que promovem o livro, seus autores e seus leitores, como a Câmara Brasileira do Livro com as Bienais em São Paulo e no Rio de Janeiro. As feiras de livros de rua como a de Porto Alegre na Praça da Alfândega, a de Belo Horizonte na Serraria Souza Pinto e mais recentemente a feira do Pacaembu. Há ainda que considerar a FLIP Festa Literária Internacional de Parati e a Flipoços Festival Literário Internacional de Poços de Caldas e suas congêneres em vários outros pontos do país.
O trabalho que a Câmara Brasileira do Livro realiza desde 1946 vem cumprindo importante papel na defesa e difusão do livro, organizando o mais prestigiado prêmio literário brasileiro que é o Jabuti. O “Observatório do Livro e da Leitura” vem desde 1999 impactando crianças, jovens e adultos com seus grupos de leitores organizados em clubes que reúnem pessoas com interesses os mais variados, sempre em torno da leitura. O ‘Bancos Sociais’ do Rio Grande do Sul criou espaços de leitura alcançando todos os albergados com incentivos à leitura e à escrita. Os clubes de leitura ou círculos de leitores estão se desenvolvendo em verdadeiras redes. A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil cumpre também um papel de grande importância na promoção de autores e leitores desde a infância.
Todas essas organizações tem mobilizado escolas, professores e alunos com grande proveito no sentido do incentivo às leitura. Todas as atividades ligadas ao livro incluem a escola, os educadores e seu entorno com grande envolvimento de professores e alunos.
A novidade nesse campo tem sido a leitura nas telinhas de celulares, notebooks e outros dispositivos, de textos geralmente fragmentados e fora do contexto em que foram produzidos. Essa leitura utilitária que visa exclusivamente atender às necessidades estudantis tem aberto um campo de exploração nas plataformas de Inteligência Artificial, que dentre suas utilidades não está o desenvolvimento do gosto pela leitura.
Já começa a surgir uma enorme dificuldade na escrita entre os jovens que já se acostumaram a ler “pq” em lugar de “porque”, “vdd” em lugar de “verdade” e por aí vai. Já temos relatos dessas dificuldades entre alunos das universidades.
“Quem não lê não escreve”, artigo meu, publicado na Folha de S.Paulo em 1997 já salientava o vínculo indissociável entre as habilidades de leitura e de escrita. Com o advento desses modernos bancos de dados com trechos e resumos de obras literárias que acabam por formar um mosaico de informações sem nenhuma contextualização, estamos vendo a crescente impossibilidade de formar leitores e profissionais capazes de produzir textos com alguma qualidade.
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WANDER SOARES, Economista e Professor é Presidente Emérrito da Academia Paulista de Educação.