Artigo – Na era da Inteligência Artificial, só sobreviverá quem souber perguntar

por Francisco Carbonari
Vivemos em um mundo de mudanças aceleradas, onde as respostas rápidas parecem ter se tornado o que mais importa. Um simples toque na tela nos entrega em segundos aquilo que buscamos. Essa lógica, porém, nos faz ansiosos por encerrar conversas antes mesmo de iniciá-las e obter respostas antes de formularmos as perguntas.
Aprendi, nas primeiras aulas da minha Faculdade de Filosofia, que mais importante do que as respostas são as perguntas. É a pergunta que instiga a reflexão, alimenta a curiosidade e nos conduz por caminhos desconhecidos. Ela abre espaço para a dúvida — e sem dúvida não há progresso. Albert Einstein dizia que, se tivesse apenas uma hora para resolver um problema crucial para a humanidade, gastaria 55 minutos formulando a pergunta certa e apenas cinco pensando na resposta.
Isso não significa que as respostas não tenham valor. Mas sem compreender plenamente o que buscamos, sem formular a questão de maneira adequada, a resposta corre o risco de ser superficial ou inútil. A pressa por soluções imediatas, sem clareza do problema, leva ao improviso e a equívocos — muito frequente em nossos dias.
Essas questões me vieram à mente ao refletir sobre os impactos da Inteligência Artificial, principalmente sobre a educação. A escola nasceu com a missão de transmitir conhecimentos produzidos pela humanidade, tendo no professor o transmissor desse saber. A IA rompe com esse paradigma: hoje qualquer aluno acessa, em segundos, informações que antes estavam restritas a livros ou professores. O conhecimento está disponível em um clique. Isso tem levado alguns a preverem o fim da profissão docente, em análises apressadas e catastróficas.
Mas se as informações estão facilmente acessíveis, o desafio passa a ser outro: como formular boas perguntas para buscar o que importa, organizar os dados e aplicá-los de maneira crítica em cada situação. A memorização cede espaço à capacidade de análise, interpretação e construção de sentido.
Nesse cenário, aprender a perguntar torna-se essencial. Não se trata apenas de “obter respostas”, mas de aprender a lidar com a dúvida, organizar informações, identificar princípios em diferentes contextos e elaborar perguntas que abrem caminhos, Muitas vezes será preciso, inclusive, ter a paciência de não buscar respostas imediatas, permitindo que novas abordagens sejam possíveis.
Negar a importância da IA no mundo que vivemos, seria ingênuo. Cabe a todos – especialmente às escolas – aprenderem a conviver com ela, compreendendo seus limites, explorando suas potencialidades e formando pessoas capazes de perguntar, porque em um tempo de respostas instantâneas, será a qualidade das perguntas que definirá o verdadeiro valor das respostas. A IA pode responder tudo, mas é necessário quem ensine a perguntar.