Artigo – O problema não está nos alunos, está na escola

por Francisco Carbonari
A mídia dedicou, em outubro, amplo espaço a uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que revelou um dado preocupante: as salas de aula no mundo estão se tornando cada vez mais indisciplinadas.
Segundo matéria publicada pelo Estadão, um em cada cinco professores dos países da OCDE afirma perder muito tempo de aula com interrupções dos alunos. Na Finlândia, o número de docentes que dizem precisar pedir aos estudantes que respeitem as regras, cresceu 10% nos últimos anos.
Embora o fenômeno seja global, o Brasil se destaca. É campeão nos rankings de indisciplina: aqui, mais professores relatam ser intimidados ou verbalmente agredidos por alunos. Seis em cada dez consideram a indisciplina sua maior fonte de estresse.
Mas é preciso cuidado ao interpretar esses números. A explicação simplista — “os alunos de hoje são mal-educados” — trata de modo superficial uma questão que é estrutural.
Vivemos em uma era em que a tecnologia alterou profundamente a forma de ser, pensar e se relacionar. Os jovens de hoje crescem conectados, em diálogo constante com múltiplas vozes e estímulos, enquanto a escola permanece essencialmente a mesma do século XIX: salas fixas, carteiras enfileiradas, professores falando e alunos ouvindo.
Como lembra o professor António Nóvoa, “nos preocupamos muito com programas, valores e grandes ideias, mas quem define o dia a dia das crianças é a maquinaria escolar”. A frase é conhecida, mas pouco praticada: a educação se faz na sala de aula, e a forma como ela é organizada afeta diretamente o comportamento dos estudantes.
O modelo centrado na exposição oral do professor e na passividade dos alunos não se adequa mais ao tempo presente. É preciso derrubar as paredes — físicas e simbólicas — da escola, criando ambientes de convivência e colaboração. As crianças e os jovens devem trabalhar juntos, desenvolvendo projetos e refletindo sobre suas próprias vidas.
Também é hora de romper com o ensino fragmentado, em que cada disciplina ocupa um compartimento isolado. O mundo não é dividido entre história, matemática e artes — e o conhecimento também não deve ser. Os professores precisam atuar de forma integrada, aprendendo e ensinando em conjunto.
Como defende Nóvoa, precisamos de escolas conviviais, que sejam espaços de diálogo, participação e escuta.
Enquanto continuarmos a responsabilizar os jovens — e não as estruturas escolares — pelos problemas de disciplina e desinteresse, estaremos adiando uma transformação urgente. O fato é que a sala de aula ficou pequena para o mundo dos alunos. Os jovens de hoje não aceitam mais uma escola que continua presa ao século XIX, enquanto o mundo em que vivem já caminha pelo século XXI.
