Discurso de Posse do Acadêmico João Cardoso Palma Filho
DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 32 DA ACADEMIA PAULISTA DE EDUCAÇÃO.
Ilustres Acadêmicos, minhas senhoras, meus senhores.
Considero uma grande responsabilidade tomar posse na Cadeira nº 32 desta Academia Paulista de Educação e, desde já agradeço a todos os membros que entenderam sufragar o meu nome para ocupar a Cadeira que tem como Patrono o ilustre Educador Professor Horácio Augusto da Silveira e que teve como fundador o insigne educador Arnaldo Laurindo e que na sequência, foi ocupada por não menos ilustres educadores, que muito contribuíram para o desenvolvimento da educação no Brasil e particularmente no nosso Estado de São Paulo.
Refiro-me aos professores Sólon Borges dos Reis e ao que me antecedeu, o professor Paulo Ernesto Tolle, falecido em 12 de agosto de 2010, aos 92 anos de idade.
O professor Paulo Ernesto Tolle formou-se em direito pela Faculdade de Niterói (RJ) e realizou seu mestrado em Direito Aeronáutico na Universidade McGill, Canadá. Foi autor do texto legal para a fundação do CTA do ITA, na condição de assessor do Coronel Casimiro Montenegro Filho. Foi também autor de legislação que permitiu a contratação de professores estrangeiros com remuneração em dólares norte-americanos, como o professor do MIT Richard Harbert Smith, o primeiro Reitor e autor do Relatório que inspirou a criação do ITA. De sua autoria é o arcabouço legal do Plano Smith.
No ano de 1951, mudou-se com a mulher e a filha, Vera, para a sede do ITA, em São José dos Campos (SP), quando passou a integrar o seu corpo docente. Foi Assessor Jurídico do Cel. Montenegro, Chefe do Departamento de Humanidades em Direito para Engenheiros e Direito Aeronáutico e foi ainda chefe da Divisão de Alunos e da Divisão de Administração de Registros.
Além de assessor jurídico e professor, ensinava os professores a dançar e levava as crianças para brincar.
Presidiu a Congregação do ITA.
Foi Secretário Municipal de São Paulo de Educação e Cultura, Secretário de Educação do Estado de São Paulo e Presidente do Conselho Estadual de Educação.
Foi Diretor Vice-Presidente da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado.
Em 1970, o professor Ernesto Tolle queria se aposentar. Depois de uma vida de muito trabalho, dizia que viraria motorista da mulher, Katie, com quem se casou em 1938.
Porém, o desejo de continuar trabalhando com educação, o levou aceitar o cargo de diretor do Senai de São Paulo, função que exerceu até o ano de 1992.
Nessas duas décadas, expandiu a rede, criou escolas técnicas e primou pela qualidade do ensino.
Vivia de novo a possibilidade de moldar um sistema de ensino, como havia feito no final dos anos 40, quando integrou a comissão da criação do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica).
Como membro do Conselho Estadual de Educação, a que já me referi anteriormente, participou de inúmeras comissões, inclusive a que deu origem a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e ainda redigiu a base legal para a criação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), estimulado que fora pelo Empresário e Senador da República Ernesto Pereira Lopes.
Durante a gestão do Governador Roberto de Abreu Sodré, antigo colega no Colégio Rio Branco, colaborou com o governo estadual em projetos relacionados com a educação no âmbito estadual e federal, bem como muito contribuiu com suas intervenções ponderadas no sentido de serenar os ânimos no caso da discussão, que então se travava em torno dos acordos MEC-USAID.
O professor Paulo Ernesto Tolle, a quem tenho a honra de suceder na cadeira nº 32 desta Academia de Educação, sem sombra de dúvidas, por tudo que aqui disse, foi um emérito educador e conciliador, viabilizador de sonhos impossíveis em cada época.
Com a idade avançada e viúvo, afastou-se da vida pública e ficou na companhia da filha até os 92 anos em sua casa na Granja Viana, vindo a falecer no dia 12 de agosto de 2010.
Como os presentes podem constatar, tenho razão quando afirmo, ser muito grande a responsabilidade que assumo ao tomar posse na Cadeira que foi ocupada por Arnaldo Laurindo, Sólon Borges dos Reis e por último pelo Professor Paulo Ernesto Tolle.
Por ocasião de seu falecimento, o SENAI de São Paulo prestou-lhe homenagem e fez publicar em jornal local trecho de discurso que faz referência a ação educacional dessa Instituição de Ensino, que pela relevância, transcrevemos:
“Reconhecemos no SENAI, que a educação não é panaceia para os males que crescentemente abalam a estrutura da sociedade brasileira. Sabemos que a escola, no torvelinho das mudanças sociais, a que não pode ser infensa, não está imune às agitações extraclasse e às discussões de todos os matizes sobre o trabalho do homem numa civilização técnica. Nesse contexto amplo, sem fugir à reflexão sobre os problemas e as opções propostas à sua solução, a presença do SENAI se nota, não pela oratória vazia, mas pela construção sem alarde. Constrói o SENAI educando para o trabalho – este, por sua vez, considerado meio de construção da sociedade humana. Educa procurando estimular no aluno a curiosidade que leva à vontade de aprender e à posição de compreender que o aprendizado há de ser contínuo para permitir-lhe adaptação a mutáveis condições do mercado de trabalho (…). E assim bem servindo ao educando está o SENAI bem servindo à indústria que não ignora ser a educação um dos fatores preponderantes do equilíbrio social e do crescimento da economia do país.”
Encerro minhas breves palavras com as citações de dois grandes educadores, contemporâneos do professor Ernesto Tolle.
De Paulo Freire:
“A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível de ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu não fizer hoje o que hoje pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje também não pude fazer.” Paulo Freire.
De Anísio Teixeira submeto à reflexão dos presentes duas citações:
“Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a escola pública.”
“A forma democrática de vida funda-se no pressuposto de que ninguém é tão desprovido de inteligência que não tenha contribuição a fazer às instituições e à sociedade a que pertence; e a forma aristocrática, no pressuposto inverso de que a inteligência está limitada a alguns que, devidamente cultivados, poderão suportar o ônus e privilégio da responsabilidade social, subordinados os demais aos seus propósitos e aos seus interesses.”
Mais uma vez fico agradecido pela escolha de meu nome para ocupar a Cadeira nº 32 desta Academia. E assumo o compromisso perante todos os presentes que continuarei dedicando todo meu esforço físico e intelectual para a construção de uma educação de qualidade para todos aqueles que vivem no território brasileiro.
João Cardoso Palma Filho
Academia Paulista de Educação
São Paulo, 10 de outubro de 2011.