Discurso de Saudação ao Acadêmico Crodowaldo Pavan.
DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO TITULAR
CRODOWALDO PAVAN
pelo Acadêmico Titular Osvaldo Sangiorgi
19/9/2001
Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Paulista de Educação, Ilustríssimos Senhores Membros Componentes da Mesa, Senhores Acadêmicos, Senhoras e Senhores:
PLATÃO – fundador da primeira Academia na antiga Grécia, berço da civilização ocidental preconizava: toda vez que surge um novo Acadêmico a humanidade inteira fica mais enriquecida culturalmente!
É o que acontece nesta data em que surge um novo Acadêmico com suporte da Academia Paulista de Educação: Crodowaldo Pavan, insigne cientista e emérito educador, orgulho nacional no campo da Genética e já consagrado internacionalmente (e aí está a humanidade inteira de Platão) pela excelência de sua obra produzida e, felizmente, ainda em produção eloquente.
Daí, meus amigos, a dificuldade que se tem, nesta cerimônia, em poder quantificar o enorme acervo de seus trabalhos científicos; dos inúmeros cursos que ministrou em Instituições Científicas e Universidades, nos quatro cantos do mundo; dos Títulos Acadêmicos conquistados; dos Prêmios com que foi agraciado; das Homenagens que lhe são prestadas e das colendas Academias a que pertence.
Como hoje Crodowaldo Pavan ingressa nesta nossa Academia Paulista de Educação – que já comemora 31 anos de bons serviços prestados à Educação –, o parâmetro diretor de nossa saudação procurará enfatizar um pouco mais o seu desempenho na Educação que, de certa forma, é modelo para a atual geração, não fora ele Professor Emérito da USP, Universidade de São Paulo, e da Unicamp, Universidade Estadual de Campinas.
Nas suas práticas educativas, Pavan sempre revelou uma personalidade marcante de muita paixão no que respeita a devoção, no ato de ensinar aos jovens, na sua relação contínua com a Natureza e com os profícuos estudos dos seres vivos e, principalmente, das Leis que comandam a própria vida.
Assim, é bem conhecida a sua combatividade em propiciar aos estudantes bolsas de estudos no Brasil e no exterior, a fim de que possam adquirir uma formação de melhor qualidade. Quando, por sete anos (1968-1975), foi professor da Universidade do Texas, em Austin, nos EUA, tendo sido antes pesquisador por ano e meio nos famosos Laboratórios de OAK Ridge, em Tenesse, Pavan conseguiu bolsas norte-americanas para que 13 estudantes brasileiros estagiassem com ele. Ainda nos EUA, orientou 3 doutoramentos (Ph.D.), 4 mestrados e recebeu 6 pós-doutorados, sendo 3 brasileiros e 3 europeus.
A seguir, iniciou um programa de colaboração entre o seu Departamento de Biologia na USP e essas duas Instituições para o intercâmbio temporário de professores.
Sob o nosso prisma, Crodowaldo Pavan é, sem dúvida, um dos mais destacados e sublimes produtos originados da nobilíssima Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Esta Faculdade, de nome tão abrangente por envolver em secções autônomas do conhecimento (Filosofia, Matemática, Física, Química, História Natural, Biologia, História, Geografia, Ciências Sociais, Letras), foi a grande novidade cultural da época – 1934 – e que ensejou a criação da própria Universidade de São Paulo.
Este fato se constituiu na experiência mais importante da história da Educação brasileira.
Desde o início a FFCL contou com uma elite de professores estrangeiros dos grandes centros universitários europeus ao lado de competentes professores brasileiros recrutados, na época, em sua maioria das três renomadas faculdades públicas de São Paulo: a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a Escola Politécnica da Avenida Tiradentes e a Faculdade de Medicina de Pinheiros, que passaram a integrar a Universidade de São Paulo.
A Secção (Departamento, posteriormente) de História Natural da FFCL funcionava nesse período na Alameda Glete, nos Campos Elíseos (cercanias do Palácio do Governo de São Paulo). Aí foi revelado Crodowaldo Pavan como um aluno de grande interesse pelos estudos e pesquisas de laboratório, sob a distinguida orientação do Professor Doutor André Dreyfus, catedrático e chefe da cadeira de Biologia.
Pavan obteve, com excepcional brilhantismo, os títulos de Bacharel e Licenciado em História Natural (1941); Doutor em Ciências (Genética), 1944; Livre-Docente (Biologia), 1951; e Professor Catedrático (1952).
Neste percurso acadêmico, uma outra figura de destaque na vida do jovem Crodowaldo Pavan: o Professor Doutor Theodosius Dobzhansky, que Dreyfus trouxera para seu laboratório com o apoio da fundação Rockefeller, nos idos de 1943. Fundador, juntamente com Dobzhansky, da genética de população de drosófilas no Brasil, Pavan, no dizer de José Reis – notável escritor, jornalista e emérito cientista –, “drosofilou” de todo o jeito, descrevendo novas espécies da prestativa “mosquinha das frutas”, estudando sua genética populacional e suas propriedades cromatínicas.
Nós, que fomos contemporâneos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – Pavan na História Natural e eu na Matemática e Física –, conhecíamos o Pavan como sinônimo de drosófila.
Em 1951, uma outra mosca o apaixonou: a Rhynchosciara criada por ele em laboratório da Universidade de São Paulo e, posteriormente, em laboratório dos Estados Unidos, que acompanhou as transformações por que passam seus fabulosos cromossomos politênicos. Agora, Pavan, além de “drosofilar”, também “rincosciarava” intensamente junto com seus colaboradores, transformando a Escola fundada por Dreyfus, reforçada por Dobzhansky e dirigida por ele próprio, a partir de 1952, num grande centro de pesquisas de renome internacional.
Oswaldo Frota-Pessoa, professor Emérito da USP, figura de destaque no meio científico e do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências, diz que a linha de pesquisa desenvolvida por Pavan tornou-o mundialmente conhecido e participante ativo de Congressos Internacionais de Genética.
Antonio Brito da Cunha, outro valioso geneticista, membro da Academia Brasileira de Ciências e Professor Emérito da Universidade de São Paulo e da mesma escola de Pavan, que considera um privilégio ter sido o seu primeiro orientando na USP, ressalta como um marco os trabalhos pioneiros de Pavan que tratam das espécies como unidades biológicas e a análise dos cromossomos para a distinção e caracterização das mesmas.
Um dos aspectos mais importantes na vida de cientista-educador do Professor Crodowaldo Pavan é a intensa atividade exercitada como Professor-Visitante e Conferencista (dos mais solicitados), bem como a de Pesquisador de alto nível em Instituições Científicas e Universidades de todo o mundo, sendo com maior ênfase das europeias e norte-americanas. A propósito das Universidades norte-americanas, recordo-me de uma passagem interessante, ocorrida em 1962, quando era professor-visitante na Universidade de Kansas, em Lawrence. Fiquei sabendo no Departamento de Matemática, onde trabalhava, que haveria nos próximos dois dias conferências no Departamento de Biologia de um famoso cientista brasileiro. Fui vê-lo e muito me orgulhei de encontrar o Pavan, no seu altar predileto, espargindo cultura científica de sua especialidade aos professores da Universidade.
No ano seguinte encontramo-nos novamente em São Paulo, local onde recebemos o Prêmio Jabuti, em 1963, ele de Biologia e eu de Ciências Exatas. Foi um feliz reencontro.
Crodowaldo Pavan também é escritor e foi eleito Membro da Academia Paulista de Letras. Tem 130 trabalhos publicados, 75 dos quais em Revistas Internacionais, além de ser escritor e autor de 8 livros que versam sobre Genética, Efeito Biológico das Radiações, Ciência e Tecnologia. É membro do corpo editorial de uma dezena de Revistas Científicas, 5 internacionais e 5 nacionais.
Pavan é membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano, da Academia de Ciências do Chile, da Academia de Ciências do Terceiro Mundo, da Academia de Ciências de Lisboa e da Sociedade de Fisiografia de Lund, Suécia; do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e o primeiro presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. É também Membro Honorário da Academia de Medicina de São Paulo.
Recebeu o Prêmio Brasileiro de Genética, em 1963, e o maior prêmio de Ciências do Brasil – Prêmio Moinho Santista, 1980.
É Comendador da Ordem de Rio Branco, da Ordem do Mérito das Forças Armadas e Professor Honorário do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
Foi Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual é Presidente Honorário, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sendo um dos mais brilhantes dirigentes.
Mas, Pavan não para. Entra no século XXI como o mesmo estudioso e pesquisador de sempre, conferencista desejado e participante ativo em Congressos Nacionais e Internacionais. Atualmente, vem desenvolvendo como atividade de ponta a importantíssima área educativa de Divulgação Científica. Assim, hoje, em pleno 2001, Crodowaldo Pavan é:
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Coordenador de Divulgação e Curador do acervo do Núcleo José Reis de Divulgação Científica da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. (A propósito: José Reis – emérito cientista e jornalista, hoje com 94 anos –, premiado internacionalmente como protótipo da divulgação científica do País, continua de forma brilhante brindando-nos, semanalmente, com extraordinários escritos científicos no Caderno MAIS!, da Folha de São Paulo.)
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Presidente da Associação Brasileira de Divulgação Científica (ABRADIC), criada em 5 de junho de 2001, e que tem como presidente de honra José Reis.
Como amostra de sua constante atividade, o Professor Pavan viveu, no segundo semestre deste ano, as seguintes atividades:
– 8/8: Participou do Programa Opinião Nacional, da TV Cultura de São Paulo, no debate do tema “Organismos Geneticamente Modificados”, mais conhecidos como transgênicos.
– 9/8: No mesmo Programa Opinião Nacional, no debate do tema “Clonagem dos Seres Humanos”.
– 14/8: Participou, juntamente com Oswaldo Frota-Pessoa do Curso de Especialização em Divulgação Científica: “Conceitos e Práxis”, aberto com o fórum “Clonagem dos Seres Humanos”, promovido pelo Núcleo José Reis com o apoio da Associação Brasileira de Divulgação Científica.
Agora, uma palavra de estima ao Professor Crodowaldo Pavan, hoje empossado na Cadeira nº 18 da Academia Paulista de Educação, cujo Patrono é Monteiro Lobato.
Coincidentemente, Pavan guarda muita coisa em comum com o seu Patrono – o imortal Monteiro Lobato, que está sempre vivo em nossa memória pela sua combatividade na defesa dos princípios retos de brasilidade e da eternidade de suas mágicas obras, livros cheios de vida e de inteligência fulgurante, que sempre encantaram o universo infanto-juvenil de todo o mundo.
Crodowaldo Pavan e Monteiro Lobato mantêm, ainda, uma sublime analogia de personalidade marcante de brilho intelectual e até um isomorfismo entre os que semearam no Brasil, em termos de ciência, humanismo, alegria e cultura, ideias avançadíssimas que sempre conduziram o povo brasileiro para um desenvolvimento justo e digno do ser humano.
Finalmente, meu caro acadêmico Pavan, termino estas palavras lembrando uma questão científica que instigava o grande físico e matemático brasileiro Mário Schenberg: sua preocupação com a origem do espaço e o tempo, ou seja, a origem da Flecha do Tempo. Perguntava Schenberg:
“ Estamos indo, hoje, para o passado ou para o futuro?”
Esta afirmação lhe valeu ser incluído por Eisntein entre os dez mais notáveis físicos de sua época.
No seu caso, Pavan, a flecha do tempo tem mão única que é o presente, sempre presente, tal a sua constante presença em todos os segundos do tempo que vive!
Seja bem-vindo a esta Academia, Crodowaldo Pavan!
Osvaldo Sangiorgi