Discurso de Saudação ao Acadêmico Francisco Aparecido Cordão.
SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO TITULAR
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO
PELO ACADÊMICO TITULAR
14/4/2009
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Excelentíssimo Presidente da Academia Paulista de Educação, Professor João Gualberto de Carvalho Meneses;
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Demais autoridades presentes.
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Educadores.
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Convidados e convidadas.
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Amigos da comunidade da educação profissional.
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Senhoras e senhores.
Em primeiro lugar, devo dizer que me sinto profundamente honrado, orgulhoso e especialmente feliz com a incumbência que a Presidência da Academia me atribuiu para proferir esta saudação. Honrado pela oportunidade de saudar um notável educador por ocasião da sua posse como membro titular da Academia Paulista de Educação. Orgulhoso, pois, sem dúvida alguma, a Academia fica mais rica e engrandecida com a presença de um ferrenho e competente lutador pelas grandes causas da educação no Estado de São Paulo e no Brasil. E feliz, pois se trata de uma especial figura humana com quem, ao longo das últimas décadas, desenvolvi uma intensa relação de trabalho, de respeito mútuo e, sobretudo, de profunda amizade.
Estou falando do mais novo acadêmico Francisco Aparecido Cordão, a quem, desde logo, cumprimento e dou as boas vindas em nome de todos os membros da Academia.
Cabe-me, como determina o protocolo, falar sobre a trajetória pessoal e profissional do acadêmico Cordão. É muita responsabilidade. Tentarei ater-me a fatos e situações, a meu ver, marcantes e definidores de um caráter e de uma personalidade. Peço, portanto, meu querido amigo Cordão, antes de mais nada, excusas pelas inevitáveis imprecisões e omissões sobre a sua vasta e fecunda biografia.
O acadêmico Cordão nasceu em Avaré em março de 1945. Aniversariou, portanto, há poucos dias. Avaré, para quem não sabe, é uma aprazível cidade localizada no centro-oeste paulista (na região metropolitana de Iaras, esta sim conhecida por todos). Cursou os primeiros anos da escola primária em escola rural, no Bairro dos Rochas. Com sacrifício próprio e dos pais, o menino Francisco concluiu o primário em Avaré e, logo a seguir, numa tendência já anunciada, foi para o Seminário Menor em Botucatu, onde cursou o que correspondia ao ensino secundário. E o Francisco continuava no firme propósito de ser padre. Aqui cabe um parênteses: muita gente de renome no cenário nacional brasileiro formou-se em escolas religiosas, seja por real vocação, seja pela carência de outras oportunidades educacionais, seja pelo reconhecimento da qualidade do ensino em tais instituições.
Concluído o Seminário Menor, o Francisco mudou-se para São Paulo, onde veio a cursar e concluir o Seminário Maior do Ipiranga, formando-se em teologia e filosofia. Parecia tudo pronto para o início de uma carreira eclesiástica. Um fato, porém, determinou uma importante mudança de rota. O Francisco não aceitou a regra episcopal de “cega obediência”. Não se tratava de rebeldia ou de revolta contra os princípios e cânones da fé religiosa. Tratava-se, sim, da afirmação de um importante traço que marcaria, de forma permanente, o rumo e a vida do Francisco. Pensamento próprio e autonomia passariam a ser marcas definitivas do Cordão. Todos sabemos que autonomia da escola e projeto pedagógico viriam a ser conceitos fundamentais desenvolvidos, defendidos e disseminados pelo Cordão em todo o território nacional. O certo é que a instituição religiosa perdeu um promissor quadro; ganharia, como seria confirmado mais tarde, a educação paulista e brasileira.
De qualquer forma, também estava definida a vocação pelo ser humano e pelo social. E na década de 1960, o Cordão começa a sua trajetória profissional como professor e, no SESC, como organizador social. Nessa época, em trabalho educacional voluntário no Vale do Ribeira, ganha força uma parceria humana que, sem dúvida, seria o alicerce de uma construção de vida e de trabalho até os dias atuais. Salete, aqui presente, a quem rendo minhas homenagens, tornou-se esposa, colaboradora e conselheira do Cordão.
E a luta continuou. O Cordão busca ampliar seus horizontes intelectuais no campo educacional e se forma em pedagogia, especializando-se em supervisão, administração e sociologia da educação. Passa a trabalhar no SENAC, essa conhecida e conceituada instituição de educação profissional voltada ao comércio e serviços. Ocupa vários cargos em nível estratégico e firma presença indispensável nas discussões de temas relacionados à educação profissional no nosso país. Paralelamente à atividade no SENAC, começa uma rica e produtiva caminhada do Cordão em Conselhos de Educação. Foi conselheiro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo durante 18 anos, tendo exercido três mandatos de Presidente do colegiado. Já o conhecia antes de ser conselheiro, mas foi nessa época, em que também exerci essa função, não por tanto tempo, que estreitamos os nossos laços de trabalho e de amizade. O Conselho Municipal de São Paulo também contou com a presença e ativa colaboração do Cordão na organização do sistema municipal de ensino. Para coroar essa trajetória de conselheiro faltava o Conselho Nacional de Educação. Os méritos, o conhecimento e a experiência eram mais do que suficientes para que viesse a ocupar essa mais alta função colegiada da educação em nosso país. De fato, o Cordão foi nomeado para mandato de conselheiro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional durante oito anos, tendo sido Presidente durante três mandatos. Terminado o último mandato de conselheiro, fez-se logo sentir a ausência da sua liderança e de seus conselhos. Recentemente, foi reconduzido ao Conselho Nacional para mandato, atualmente em curso, de mais quatro anos.
Tudo isso sem qualquer vínculo e “cega obediência” político-partidária. Há quem considere o Cordão suprapartidário em matéria de educação e concordo com isso. Aliás, a educação não deve constituir exclusividade de um partido, que por definição é parte. A educação é compromisso e responsabilidade de todos. Os Pioneiros de 32 perceberam com clareza essa verdade ao deflagrarem um movimento amplo de reconstrução educacional no Brasil. Faz sentido, portanto, a definição e manutenção de políticas públicas de educação, independente de partidos e do governo de plantão.
Uma vez mais peço desculpas ao acadêmico Cordão, pois não vou me alongar falando de inúmeras outras atividades e da sua vasta produção intelectual como conferencista e autor de relevantes pareceres e artigos sobre educação em geral, destacadamente sobre educação profissional. Seu nome tornou-se uma referência nacional em matéria de educação profissional. No SENAC e nas funções públicas que exerceu e ainda exerce, sua contribuição tem sido decisiva na formulação de diretrizes, políticas e normas gerais para os sistemas de ensino do nosso país. Não poderia deixar de assinalar que o conselheiro Cordão foi o dedicado e competente relator das diretrizes curriculares e operacionais do ensino técnico, da graduação tecnológica, do estágio supervisionado e da educação profissional em geral.
Nada disso foi por acaso nem por acidente. O Francisco, lá do Bairro dos Rochas, lutou, trabalhou arduamente e mostrou que era capaz de crescer, construir e transformar o mundo, sempre sob a égide dos valores e princípios que nortearam a sua vida pessoal e profissional. Nunca abriu mão da autonomia de pensamento e de ação, da firme crença de poder melhorar a vida do povo pela educação e do propósito inabalável de edificar uma sociedade justa, solidária, livre e democrática.
Em resumo, devo dizer, sem receio de errar, que, atualmente, o educador, conselheiro e acadêmico Francisco Aparecido Cordão é a maior autoridade em matéria de educação profissional no nosso país.
Vê-se, portanto, que a Academia acaba de receber um guerreiro de primeira grandeza da educação brasileira. Em breve, esperamos que o acadêmico Cordão possa nos brindar com o seu conhecimento em conferências, palestras e debates promovidos pela Academia.
Meus caros amigos, permitam-me nomear, entre os presentes, um grupo de pessoas que, há décadas, acompanha de perto, participa e colabora, com relativa constância, com o Cordão: a Zélia, a Marilda, o Amin, o Jarbas, o Fábio Aidar, o Francisco de Morais, o Manzano e o Pablo.
Para finalizar, diria que, neste evento, encontra-se em festa toda a comunidade da educação profissional do Brasil, que presta homenagem ao acadêmico Cordão. Em nome dessa comunidade, quero fazer uma saudação especial a outro grupo, também presente, particularmente caro ao Cordão:
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O José Parra, seu irmão também educador.
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A Salete, sua esposa, igualmente lutadora e idealista, a que já me referi.
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O Daniel, seu filho.
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A Renata, sua nora.
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O Renatinho, seu neto.
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E a dona Maria Leme, a mãe, do alto dos seus 90 anos, que lutou bravamente para que isto tudo pudesse acontecer.
Acadêmicos, autoridades, educadores e convidados – disse e repito: a Academia Paulista de Educação recebe com orgulho e satisfação, para ocupar a cadeira número 28, cujo patrono é o educador Suetônio Bittencourt, o novo acadêmico Francisco Aparecido Cordão.
Acadêmico Cordão, aceite um caloroso abraço de boas vindas à nossa Academia!
Obrigado a todos pela atenção!