Discurso de Saudação ao Acadêmico Irany Novah Moraes
SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO TITULAR
IRANY NOVAH MORAES
PELO ACADÊMICO TITULAR J.B. DE OLIVEIRA COSTA JR.
É, para mim, honrosa incumbência saudar, neste instante, em nome da Academia Paulista de Educação, o eminente professor Irany Novah Moraes, um dos expoentes do magistério superior de São Paulo.
Conheço-o desde longa data, ainda quanto recém-egresso, em 1952, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, após brilhante passagem pela prestigiosa casa de Arnaldo, prenunciando já, naquela época, a sua caminhada vitoriosa no campo das letras e da ciência esculapiana.
Acompanho, portanto, a sua marcha ascensional com a mais profunda admiração e vivo interesse. Traduzir agora os feitos do nosso mais novo companheiro apesar de ser tarefa agradável é uma evocação sentimental, guardada com especial carinho, durante muitos anos, no mais recôndito do coração e que o tempo só pode exaltar e encarecer.
Quero desde logo destacar a sua tríplice vocação: para o jornalismo, para os problemas universitários e para a prestigiada cirurgia vascular. Como jornalista, atende Sua Excelência às preferências dos exigentes leitores com artigos e ensaios no acatado matutino “O Estado de São Paulo”, que para especial coincidência tem como patrono, neste egrégio sodalício, a figura ímpar e excepcional de Júlio de Mesquita Filho, o varão de Plutarco, símbolo dos brios da terra paulista e defensor intrépido da democracia, dos direitos constitucionais e das justas liberdades em nossa querida pátria.
Foi ele, Júlio de Mesquita Filho, fundador, com Armando Salles de Oliveira, da Universidade de São Paulo, o jornalista sempre empenhado em preservar as verdadeiras instituições, cujas existências são necessárias para garantir o almejado progresso nacional. E só isso já engrandece a cadeira nº 12 desta Academia.
O nosso novel acadêmico nasceu em Bauru, a próspera cidade do oeste paulista, aos 9 de agosto de 1926, filho de Daniel Damasceno Moraes e de Iracema Novah Moraes. Obteve o doutorado na Faculdade de Medicina da USP, em dezembro de 1956, defendendo a tese “Contribuição para o conhecimento da valva mitral no coração humano”, com observações sobre a arquitetura das “Cúspides pelo Método das Linhas de Fenda”, aprovado com nota distinta e elaborada sob a orientação do renomado professor Renato Locchi.
Por concurso recebeu, da Associação Médica, em 1961, o título de especialista em Angiologia. Em 1965 conquista com brilho a docência-livre de Clínica Cirúrgica, na mesma Faculdade de Medicina, após memoráveis provas. Estagiou na Faculdade de Medicina da Universidade de Strasburg (França), na Northwestern University, em Chicago (USA) e foi bolsista da Fundação Alexander Von Humboldt (Alemanha).
Entre várias atividades docentes destacamos a de professor responsável do curso de pós-graduação das disciplinas de “Patologia Clínica da Arteriosclerose” e “Metodização da Pesquisa Científica Aplicada à Cirurgia”; professor titular de Cirurgia Vascular da Faculdade de Medicina de Santo Amaro; professor associado de Cirurgia Vascular da Escola de Educação Física da USP; chefe de Laboratório de Investigação Médica de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Exerceu vários cargos, como o de conselheiro da Universidade de São Paulo (1970-1985); conselheiro da Fundação Padre Anchieta; membro do Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo; presidente da Academia de Medicina de São Paulo e, atualmente, é presidente da Sociedade Brasil-Alemanha de Ciências da Saúde, cujo mandato se encerra este ano.
Publicou mais de duzentos artigos científicos em revistas e jornais nacionais e estrangeiros. É autor de vários livros, dentre os quais podemos citar: “Metodização da Pesquisa Científica”; Perfil da Universidade”, contendo na primeira parte a “Problemática Universitária” e, na segunda, o estudo sobre a “Comunidade e Universidade”; “Problemática da Saúde”, com prefácio do professor Alípio Corrêa Netto, resultado dos artigos publicados em sua maioria em “O Estado de São Paulo”; “Propedêutica Vascular”, já em segunda edição, com farta ilustração, contendo esquemas, desenhos e fotografias; “Elaboração da Pesquisa Científica”, também em segunda edição, verdadeiro roteiro para estudiosos e pesquisadores; e a “Enciclopédia de Cirurgia Vascular”, obra de grande utilidade, com 414 páginas e vasto elenco de verbetes, minuciosamente apresentados e publicada em 1989.
O seu trabalho “Perfil Forense de Medicina” é uma coletânea de artigos publicados no jornal “O Estado de S. Paulo”, na revista ‘Carisma” e na revista “Problemas Brasileiros”. Está dividido em quatro partes: a primeira, cuida da Ética Médica; a segunda, do exercício profissional da Medicina; a terceira, de assuntos tanatológicos; e a quarta, do infortúnio de trabalho, temas esses tratados com muita clareza e atualização.
Conquistou a Medalha Cultural “Oscar Freire”, conferida pela Sociedade de Medicina Legal e Criminologia de São Paulo e pela Sociedade Paulista de História da Medicina. Foi-lhe também conferida a Medalha do Mérito Angiológico “René Fontaine”, no grau de mestre, pela Sociedade Brasileira em Angiologia e Cirurgia Vascular.
Sua atividade científica, todavia, não para, tendo publicado, neste ano, o livro “Erro Médico”, tema sempre atual e polêmico, estudando, muito bem, os parâmetros existentes para sua melhor compreensão. Assim, nesses casos, não ocorre o crime doloso, quando o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo, mas, sim, o crime culposo, onde há imperícia, imprudência ou negligência. Na verdade, algumas vezes é insensível e pouco nítida a passagem do dolo, por assumir o risco, para a culpa “stricto sensu”. Não importa, bem analisados todos os elementos chegar-se-ão, com critério, à caracterização do delito desde que se inclua na culpa pequenos erros, inerentes à própria atividade humana, o que iria criar uma situação impeditiva do exercício da Medicina ou, de forma oposta, só admitindo os erros crassos, grosseiros, que acarretariam a irresponsabilidade profissional.
Ainda recentemente, o professor Irany brinda as letras médicas com o seu “Atlas da Aterosclerose”, baseado em casos do Instituto Médico Legal de São Paulo, um conjunto de mapas de distribuição dos ateromas, mostrando a frequência, a localização, o tamanho e o grau de estenose dos pontos vulneráveis do aparelho circulatório. São 36 figuras muito ilustrativas e que permitem uma visão perfeita desse grave problema da patologia vascular. E ainda agora, no dia 9 do mês passado, recebeu o título de cirurgião emérito, conferido pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Participou ativamente de oitenta congressos científicos no Brasil e países estrangeiros. Basta, portanto, a apresentação do currículo do novo recipiendário para mostrar o seu valor, o que muito enobrece a Academia Paulista de Educação, contribuindo para alcançarmos os objetivos colimados, justificando a reunião de cultores das ciências, das artes e das letras, com fins educacionais.
A nossa Academia é de Educação, na expressão ampla do termo, significando a “ação e efeito de educar”, desenvolvendo as faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano. E essa é a verdadeira função do educador.
O conceito de Educação foi muitas vezes identificado com o conceito mais restrito de instrução, mas, sob a influência de ideias evolucionistas, está largamente difundida a noção de que todos os estímulos que provocam uma série de reações da parte do indivíduo têm alguma influência no seu caráter e fazem parte, portanto, da sua educação. É conceito demasiadamente largo e vago. Na acepção atual, Educação é o conjunto de processos intencionalmente aplicados por uma dada sociedade ou grupo para realizar nos indivíduos os ideais aprovados por essa mesma sociedade ou grupo, enquanto a palavra Instrução designa os meios e métodos adotados para dar ao indivíduo certas aptidões, em geral de caráter intelectual. Essa definição indica que a educação tem duas fases mais ou menos distintas. Uma, é o processo de ajustamento das atividades individuais ao ambiente social, isto é, aos ideais e práticas consuetudinárias dos seus companheiros. Pode-se, também, resumir na formação da personalidade, feita pela ação dos adultos, exercendo influência sobre as crianças e os jovens, estimulando-os a fazer bom uso das potencialidades latentes, e a conhecer, adotar e vivenciar valores escalonados (Armida Bergamin Miotto, in Enciclopédia Saraiva do Direito, vol. 30, p. 88). Todavia, como o ser humano não é um simples indivíduo (um composto biopsicológico), mas pessoa, conjunto de corpo, psique e espírito, a formação da personalidade deve ser integral, com conteúdo ético e dimensão social.
No Parecer nº 853/71 do Conselho Federal de Educação, a educação geral, parte do currículo pleno dos estabelecimentos de ensino, é destinada a transmitir uma base comum de conhecimentos indispensáveis a todos na medida em que espelhe o humanismo dos dias atuais (Lei nº 5692, de 11/08/71).
A educação moral tem a preocupação valorativa de como os homens devem viver e a educação cívica a finalidade de criar e desenvolver nos cidadãos uma atitude de cumprimento exato da lei (João Gualberto de Carvalho Meneses, in Enciclopédia Saraiva de Direito, vol. 30, p. 103).
Penso até mesmo de forma mais ampla, incluindo também a educação religiosa, por atender à finalidade última da vida humana na relação com o Supremo Criador, o que está evidenciado no comportamento do homem em particular e da sociedade em geral, desde priscas eras até o momento presente, nas mais altas cogitações e sublimes esperanças.
Finalmente, por tudo isso, estou certo de que a presença do professor Irany Novah Moraes na Academia Paulista de Educação será motivo de orgulho para seu sodalício, projetando-o gloriosamente na sociedade brasileira e principalmente nos meios culturais de nossa terra. Bem-vindo seja, pois, professor Irany Novah Moraes.