DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO TITULAR

JORGE NAGLE

pelo Acadêmico Titular José Augusto Dias

14/10/1997

Abrem-se hoje as portas da Academia Paulista de Educação para receber, com imenso júbilo, um emérito educador. Sinto-me particularmente envaidecido com este acontecimento, não apenas por tratar-se de um colega professor universitário de elevado mérito, nem por ter sido ele Reitor de uma das três grandes Universidades estaduais de São Paulo, Secretário de Estado da Ciência e Tecnologia, Presidente do Conselho Estadual de Educação. O que me toca mais fundo no coração é que hoje está tomando posse na Academia meu amigo de infância Jorge Nagle.

Neste momento, sou levado pelas asas da imaginação para os dias felizes em que, ainda meninos, percorríamos as ruas tranquilas de nossa cidade, frequentávamos o Cine Santa Cruz, nadávamos nas águas barrentas do rio Pardo, pescávamos no ribeirão São Domingos, estudávamos no Ginásio Estadual e Escola Normal de Santa Cruz do Rio Pardo. O início de nossa fraternal amizade data desta época distante.

Conheço, pois, Jorge Nagle desde que ele era menino. Se, de um lado, seu físico franzino de então em nada fazia prever o homenzarrão robusto em que se transformou, de outro lado, sua inteligência e vivacidade já eram sinais seguros de que ali estava alguém destinado a crescer e vencer profissionalmente. Era um bom aluno, que se destacava especialmente na Matemática, que chegou a ensinar, ainda jovem estudante, para seus colegas de classe atrasados na aprendizagem da disciplina.

 Conhecendo-o desde aquele tempo, tive o privilégio de acompanhar com entusiasmo e crescente admiração seu brilhante trajeto profissional e sua contribuição notável aos estudos de educação.

Tendo revelado desde cedo sua inclinação para o ensino, Jorge, após ter cursado a Escola Normal, veio para São Paulo, onde se formou em Pedagogia, em 1955, na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

Depois de ter passado por alguns anos de experiência no ensino primário e médio, deu início a notável carreira no ensino superior, realizando concurso para Livre-Docente, em 1966, na área de Pedagogia Geral, na UNESP, campus de Araraquara. Em 1975, fez concurso para Professor Adjunto, na mesma Universidade. Desde 1967 lecionou como Professor Titular, em RDIDP.

É particularmente digna de nota a participação de Jorge Nagle em Colegiados.

– Membro do Conselho Superior da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 1984-1995. Presidente em exercício, 1992.

– Membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, 1985-1994. Presidente 1987-1989.

– Presidente do CRUESP (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais do Estado de São Paulo, 1986-1988.

– Membro do Diretório Executivo do CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras), 1987-1988.

– Membro do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, 1987-1988.

– Membro do Conselho Curador da Fundação Instituto de Física Teórica, desde 1989, do qual é Presidente, deste 1992.

– Membro do Conselho Federal de Educação, 1992-1994.

– Representante da FAPESP junto ao Conselho Universitário da USP, 1993-1995.

– Presidente da Sociedade Amigos do Museu Paulista, desde 1995.

– Membro do Conselho Superior da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, desde 1996.

– Membro da Comissão de Especialistas do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, incumbida de acompanhar a criação de Universidade municipal.

Na UNESP, campus de Araraquara, não se limitou à docência, tendo exercido os seguintes cargos administrativo-acadêmicos:

– 1967-1969 – Diretor da FFCL de Araraquara.

– 1978-1979 – Chefe do Departamento de Ciências da Educação, Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação, UNESP, Araraquara.

– 1980-1984 – Diretor do Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação, UNESP, Araraquara.

– 1984-1988 – Reitor da UNESP.

Lembro-me bem das circunstâncias em que ele foi convocado para este importante posto da administração universitária. A UNESP passava por uma crise institucional de grandes proporções e tinha um futuro incerto. O então Governador Montoro confiou a Jorge Nagle a espinhosa tarefa de superar a crise e salvar a Universidade. O resultado temos aí diante de nossos olhos. A UNESP é hoje uma Universidade pujante, que honra a tradição universitária paulista. A atuação firme e decidida de Jorge Nagle garantiu a recuperação da UNESP e foi, certamente, um dos mais relevantes serviços prestados à Universidade, embora não me conste que ele esteja recebendo o devido reconhecimento por seu brilhante desempenho.

Tenho particular apego pela UNESP e gostaria de revelar um pormenor que muito me honra: Em 1977, sendo Vice-Presidente do Conselho Estadual de Educação, tive, por circunstâncias ocasionais, o privilégio de presidir a reunião em que o Conselho aprovou a criação dessa Universidade.

– 1989-1990 – Presidente da FUNDUNESP – Fundação para o Desenvolvimento da UNESP.

Tive a satisfação de trabalhar na FUNDUNESP, sob o comando de Jorge Nagle. Foi um tempo relativamente curto, mas suficiente para, com o apoio e incentivo do Presidente, conduzir várias pesquisas, das quais duas puderam ser concluídas: um estudo sobre o ensino superior na Grã Bretanha, publicado pela Revista da Faculdade de Educação da USP; e uma monografia sobre a educação nos Estados Unidos, publicada pelo INEP.

Em 1988, Jorge Nagle, que já se tornara um educador bastante conhecido, graças a sua atuação como Reitor da UNESP, foi conduzido ao cargo de Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.

É bastante significativa sua produção acadêmica. Publicou, em 1973, pela Editora EDART, o livro A Reforma e o Ensino, que significou uma importante contribuição para a análise da Lei n. 5692/71, Lei de Diretrizes e Bases do Ensino de 1º e 2º Graus. Este livro mereceu nova edição em 1976.

Em 1974, publicou, pela EPU/EDUSP, o livro Educação e Sociedade na Primeira República, livro que também mereceu nova edição, em 1976, pela EPU/MEC.

Foi o organizador de dois livros: Educação Brasileira: Questões de Atualidade, publicado em 1975, pela EDART, e Educação e Linguagem, publicado em 1976, também pela EDART.

Publicou também 11 capítulos de livros, não somente para os livros que organizou, mas também para livros organizados por outros autores.

Redigiu três apresentações de livros. Uma dessas apresentações foi para o estudo Educação nos Estados Unidos: O modelo ameaçado, publicado em 1993 pelo MEC-INEP. Esse trabalho, escrito em parceria, foi o resultado de minha participação na equipe de pesquisa da FUNDUNESP, sob o comando de Jorge Nagle.

Além das publicações já mencionadas, Jorge Nagle tem também dezenas de artigos, entrevistas e outros trabalhos publicados em revistas especializadas e jornais.

Em sua produtiva atividade de professor universitário, Jorge Nagle orientou trabalhos de pesquisa, dissertações de mestrado e teses de doutoramento, participou de bancas de exame de qualificação e de bancas examinadoras para obtenção de títulos acadêmicos (mestrado, doutorado, livre-docência e titular). Participou de simpósios, congressos e seminários; proferiu conferências e palestras; emitiu pareceres técnicos; participou de comissões técnicas.

É, portanto, extraordinariamente rica sua contribuição na área da Educação. Tão brilhante trajetória profissional tem merecido o aplauso dos meios acadêmicos e da comunidade educacional. Foi honrado com o Diploma “CPFL Plus 1993”, modalidade Pesquisa Técnico-científica. Também em 1993 recebeu a Ordem Nacional do Mérito Educativo, grau de Comendador.

Este é, em rápidas palavras, o perfil do eminente educador que, ostentando extraordinária folha de serviços, apresenta-se hoje para ingressar em nossa Academia.

Meu particular e muito querido Amigo, eminente Professor Jorge Nagle, a Academia Paulista de Educação sente-se orgulhosa por recebê-lo em suas fileiras. Seja bem-vindo!