Discurso de Saudação ao Acadêmico José Sebastião Witter
DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO ACADÊMICO TITULAR
JOSÉ SEBASTIÃO WITTER
PELO ACADÊMICO TITULAR ODILON NOGUEIRA DE MATTOS
18/3/1997
Senhor Presidente da Academia Paulista de Educação
Senhores Acadêmicos
Senhoras e Senhores
Senhor Acadêmico José Sebastião Witter
Em minha já bem longa vida acadêmica, esta é a décima-terceira vez que me ocorre a oportunidade – e o privilégio – de receber um novo acadêmico. Treze vezes: seis na Academia Paulista de História, cinco na Academia Campinense de Letras, uma na Academia Paulista de Letras e, hoje, nesta tarde, em nossa Academia Paulista de Educação. Sinto-me honrado e gratificado por este momento, especialmente se considerar que tenho sido – e há muito – um omisso nesta Casa. Frequentei-a assiduamente quando para ela fui eleito, há mais de vinte anos, pois na ocasião tinha também residência em São Paulo, o que me propiciava esse privilégio. Mas, com minha transferência definitiva para Campinas, tornou-se isso mais difícil, especialmente porque o dia tradicional das nossas sessões, as terças-feiras, coincide com dia de compromissos profissionais, aos quais abri uma exceção no dia de hoje para fazer jus à distinção que me foi conferida.
Por outro lado, apraz-me lembrar que esta é a segunda vez que tenho o privilégio de receber José Sebastião Witter em uma Academia, tendo sido a primeira, em 1983, na Academia de História.. E, se não fosse uma desatenção para com meus nobres confrades, poderia até repetir o discurso que então proferi, pois nada dele teria a tirar – apenas a acrescentar – da apreciação que então testemunhei do nobre amigo e agora mais uma vez confrade. Peço licença, antes de proferir as palavras, não diria testemunhar minha alegria por falar nesta Casa. Sabem os que me conhecem o quanto me sinto vinculado ao Museu Paulista. Aqui trabalhei com mestre Taunay no início de minha carreira, e a memória – diria quase que a presença – do grande historiador, a quem devo muito de minha formação, continua, para mim, viva neste palácio, e é, pois, a sua memória que reverencio neste momento.
Não tive o privilégio de contar com José Sebastião Witter entre os meus alunos. Quando de sua passagem pelo curso de História da Universidade de São Paulo eu me encontrava vinculado a outro departamento da mesma instituição. Eis porque o conheci já licenciado, lecionando na antiga Faculdade de Filosofia de Rio Claro, então instituto isolado e atualmente integrado no grande complexo da UNESP. Pouco se demorou, aliás, na simpática cidade do interior paulista, pois, a convite do saudoso Sérgio Buarque de Holanda, veio para o Departamento de História da Universidade de São Paulo, onde realizou toda a sua brilhante carreira, nele tendo o grande mestre um dos seus mais eficientes colaboradores. Ali passei a conviver com José Sebastião Witter, não com a frequência que gostaria, mas com a que me era possível, pois dividia minhas atividades com outras instituições. Mas, foi uma convivência suficiente para o melhor relacionamento possível, solidificando uma amizade duradoura que continua sendo, para mim, um dos galardões que recebi em minha longa passagem de trinta e sete anos pela Universidade de São Paulo.
Aprendi a conhecer e a apreciar José Sebastião Witter; acompanhei-lhe a carreira na Universidade, podendo testemunhar não apenas a qualidade de seus trabalhos, mas igualmente a dedicação sem par com que acolhia e atendia aos seus inúmeros alunos. Não havia quem não se comprazesse em trabalhar com Witter, pois sabiam todos que dele promanava não apenas a orientação segura, mas igualmente o carinho, a dedicação e o estímulo de que tanto necessitam os jovens que se iniciam. E o resultado concreto está nos mestres e doutores que orientou, nos trabalhos que coordenou e nas pesquisas que empreendeu ele próprio ou levou outros a empreenderem.
Para a carreira universitária, que Witter perseguiu do mestrado à livre-docência, escolheu temas de alto interesse e significação para a história paulista, dos quais me permito citar dois: a experiência colonizadora de Ibicaba e a participação de Francisco Glicério na política nacional. Do grande propagandista campineiro, editou numerosos escritos, interpretando-os à luz de boa crítica, deles resultando os dois alentados volumes publicados pelo Senado Federal, “As ideias políticas de Francisco Glicério”.
Além da obra valiosa que já nos legou, cumpre assinalar na carreira de José Sebastião Witter sua passagem à frente de algumas importantes entidades culturais de São Paulo, como o Arquivo Público do Estado, o Instituto de Estudos Brasileiros e, agora, o Museu Paulista. Em todas essas entidades que dirigiu, procurou Witter, entre outras coisas, ativar o setor de publicações, especialmente no Arquivo Público, que dirigiu por mais de dez anos. Witter não apenas continuou as séries antigas, como criou outras ou, então, em convênio com a Imprensa Oficial do Estado, promoveu realizações editoriais de suma importância. Quem poderá ignorar as reedições fac-similares de antigos jornais – “Polichinelo”, “Democracia”, “Cabrião” – as obras de Antônio Alcântara Machado, o documentário sobre a Revolução de 1932, os almanaques, o belíssimo álbum “São Paulo em três tempos”… Iria longe se fosse mencionar todas as suas realizações nesse setor, nas outras entidades que dirigiu, inclusive neste Museu.
Creio, entretanto, que o mencionado é bastante para credenciar nosso novo confrade ao respeito e à admiração de nossa Academia, na qual doravante deverá sentar-se sucedendo a outra grande figura ligada à cultura paulista, o saudoso e querido Vinício Stein de Campos.
Meu caro José Sebastião Witter. Eu já vos era grato por vários motivos: pelo prefácio e por uma das edições de meu livro “Café e Ferrovias”, (um prefácio que está sendo mais citado que o próprio livro…); pela publicação do meu opúsculo “Saint-Hilaire e o Brasil”, na realidade a única comemoração que se fez em São Paulo por ocasião do bicentenário do grande sábio e viajante; pelos convites frequentes para participar de eventos culturais promovidos pelas entidades que presidistes; e ainda pelos muitos e muitos momentos de entretenimento cultural e também de lazer que assinalaram nosso relacionamento nestes trinta e tantos anos, quer em São Paulo, quer em diversos lugares do Brasil onde estivemos juntos, participando de congressos ou simpósios e integrando bancas examinadoras. Relacionamento “lato sensu”, que ia desde as mesas de bar até as salas mais solenes… E vosso ingresso nesta Academia permite-me manifestar mais uma vez minha gratidão pela oportunidade de receber-vos na Cadeira que, de hoje em diante será vossa, em caráter vitalício, e que ides ilustrá-la – tenho certeza – com o mesmo sentido de dignidade que sempre soubestes imprimir a todas as vossas ações.
Sede bem-vindo, nobre amigo e confrade.