Discurso de saudação da acadêmica Márcia Lígia Guidin na Posse da Profa. Marisa Lajolo
Excelentíssimo Presidente da Academia Paulista de Educação, prof. Paulo Nathanael Pereira de Souza e demais autoridades presentes. Caras novas colegas, professoras Maria Helena Guimarães de Castro e Marisa Laj Educadores, Amigos da comunidade da educação profissional; Senhoras e senhores Estou muito feliz com a incumbência de saudar a professora Marisa Lajolo nesta noite. Seu nome, indicado para membro titular da Cadeira 26 – que tem como patrono José de Anchieta , trouxe entusiasmo e expectativas para esta entidade. Isto porque onde Marisa Lajolo está, algo de novo e mobilizador sempre acontece. Esta Academia fica mais enriquecida com sua presença porque admira sua luta pela educação, em especial, pela formação de leitores – sejam alunos ou professores –que, por sua vez, vão formar outros leitores. Este processo, fundamental, pelo qual luta Marisa é o da inclusão cultural, da cidadania e ,sobretudo, do amadurecimento crítico de leitores a respeito de seu país e da sociedade em que vivem. • Como determina o protocolo, faço um resumo da trajetória pessoal e profissional da nova acadêmica. Marisa (Philbert) Lajolo é professora de Teoria Literária, ensaísta, pesquisadora e autora de muitas obras nas áreas de sua formação. Nasceu em São Paulo e viveu em Santos na infância e adolescência. Como alguns de nós ( sortudos!) fez os estudos primários e secundários na sólida escola pública dos anos 50 e 60. A seguir cursou a graduação em Letras na USP, onde se formou em 1967. Fez Mestrado e Doutorado em Teoria Literária , sob a rigorosa orientação do professor Antonio Candido. É casada com Franco Lajolo, mãe de Paula e Camila, ambas médicas, e avó de Julia, sua única neta de 6 anos – para quem, é claro, ela lê as Reinações de Narizinho, segundo nos conta (talvez) a Emília do Sítio… (Aliás, como eu soube há pouco, Julia, como boa Lajolo que é, também tem dado algumas dicas de leitura à própria avó. Parece que a última, se chama Ever After High e tem muitos personagens interessantes.) A professora Marisa lecionou no Ensino Médio e em cursos pré-vestibulares. A partir de 1979, já professora na Unicamp, consolida a carreira como pesquisadora nas áreas de literatura e teoria literária, atuando intensamente em História da Leitura, Formação do Leitor, Literatura infantil e juvenil. Marisa LAJOLO foi sempre pesquisadora corajosa. Num momento intelectual e acadêmico em que trabalhar com ensino ou com literatura infantil era tido como algo menos nobre, ela suportou embates, ironias e prosseguiu. Acabou construindo, (como lembra Paulo Franchetti), um belíssimo e útil projeto, chamado Memória de Leitura, que deu visibilidade à produção dela e à de muitos colegas da Unicamp e de fora; Com perseverança, acabou consolidando uma nova vertente de pesquisa sobre a literatura infantojuvenil e sobre Monteiro Lobato. . Em 1990, recebeu o titulo de pós- doutorado na Brown University, nos Estados Unidos. E fez vários estágios de pesquisa em outros países. Por insistentes ações de incentivo ao livro e à leitura, recebeu, entre outros prêmios, a Medalha da Ordem ao Mérito do Livro, da Fundação Biblioteca Nacional . Marisa Lajolo é uma das maiores especialistas (senão a maior) na obra de Monteiro Lobato. Professora Titular aposentada da Unicamp, desenvolve hoje a docência, orientação e pesquisas na Universidade Mackenzie, em São Paulo. É autora e coautora de livros de referência premiados (parece que há uma fila de Jabutis no sítio dela) sobre a formação da leitura e do leitor; a História do Livro; a leitura na Escola, [ Além, é claro, da coordenação e autoria de obras de pesquisa sobre Monteiro Lobato.] PEÇO LICENÇA PARA ME DIRIGIR À NOVA ACADÊMICA. Marisa Lajolo, é cativante você nos contar (numa das suas obras ) que, aos dez anos, cada vez que descia da cadeira do dentista, ganhava um livro da coleção do Sítio de Pica-Pau Amarelo. Numa ótima blague, você diz não saber se os seus dentes eram ruins, ou se a odontologia era lenta naquele tempo; o fato é que você devorou, todas as histórias disponíveis do autor antes de terminar o tratamento dentário. Você afirma que ,de lá para cá, “seu encanto por Lobato cresceu e amadureceu, matizado de 1)admiração, 2) respeito mas também de 3) divergência e 4)crítica. Marisa, se nada mais lêssemos de seus trabalhos, esta história biográfica já diria quem você é como pesquisadora, docente (e agora acadêmica) : Ilustra sua convicção de que a construção do mundo diário também advém da leitura – aqui está a formação do leitor! – desde criança se possível, como aconteceu com você. Aliás, como a imagem bem justifica, “a prender a gostar de ler é a base de uma vida humanizada, reflexiva e sobretudo dialética.” É a partir da experiência de leitura – hoje delegada à escola – que se delineia o cidadão – o ser crítico e atuante. Como ocorreu com você. E em suas próprias palavras: “Quem lê multiplica suas experiências, vive outros papeis, torna-se muitos outros. E isto pode favorecer sentimentos de generosidade”. Aliás, Marisa, generosidade é um dos seus grandes atributos. Sei o quanto (mesmo podendo tomar decisões sozinha) você respeita es estimula o trabalho intelectual coletivo – quando ( diz você) todos aprendem e compartilham. Sei o quanto você é incansável para dialogar com colegas, alunos, orientandos; o quanto é generosa em entrevistas, seminários. E sobretudo (em tempos pedagógicos tão assépticos!) o quanto você tem sido elegante e respeitosa com “consumidores” ou leitores equivocados de Lobato – quando lhes ensina que não, não há preconceito racial na obra do escritor muito ao contrário.( E lá vai você ilustrar outras vertentes lobatianas). Gostaria de dizer que indicar seu nome para esta Academia beneficiou a mim mesma, porque compartilho fervorosamente da convicção de que a leitura humaniza e amadurece, e, principalmente, de “que tudo começa e termina no professor” – e que é ele que precisa de qualificação profissional (e econômica, claro) pois partirão dele os estímulos para a difícil função de formar leitores (em qualquer área, que esta não é tarefa do professor de português somente….) Quando seu pai declamava de cor todo I- Juca Pirama (de nosso querido Gonçalves Dias) e o meu pai, imigrante italiano, lia em voz alta trechos do Grande Sertão Veredas, nós – os filhos – éramos eitores formados em casa. Hoje, tal como você, penso que é tempo de reinventar na escola o lastro que tanto nos sobrou. É mais que tempo de formar professores leitores para formar alunos leitores. “E as academias devem jogar seu prestigio nessa valorização”. Quando você ,há um ano, iniciou seu trabalho como curadora do Prêmio Jabuti , da CBL – enfático símbolo do livro e da leitura – tivemos a certeza de que suas convicções trariam ganho para o Prêmio. Foi com alegria, que vimos você agilizar a estrutura do Jabuti, dialogar com todos os colegas, arregaçar as mangas e estudar o (combalido) regulamento que – um ano depois – está reescrito com paciência e discernimento. É ASSIM, senhores, que podemos todos esperar o que vem de Marisa Lajolo: entusiasmo e mobilização. Quando ela diz que “está aprendendo muito”, o fato é que já está pensando em novas Reinações. (Não é a cara de sua avó, Julia? ) Parabéns MARISA LAJOLO, pela unanimidade com que foi eleita e pela disposição de agregar a esta Academia um mundo de leitores e bons professores para o país. Marcia ligia guidin Algumas obras da Acadêmica: Teoria e crítica literária A Crítica Estruturalista – 1969 Usos e Abusos da Literatura na Escola – 1982 Literatura Infantil Brasileira: História e Histórias – 1984 – com Regina Zilberman Monteiro Lobato: A Modernidade do Contra – 1985 O que É Literatura? – 1986 Um Brasil para Crianças – 1988 – com Regina Zilberman Do Mundo da Leitura para a Leitura do Mundo – 1993 A Formação da Leitura no Brasil – 1996 – com Regina Zilberman O Preço da Leitura: Leis e Números por Detrás das Letras – 2001 – com Regina Zilberman Literatura: Leitores e Leitura – 2001 Nós e os Outros: Histórias de Diferentes Culturas – 2001 A Leitura Rarefeita: Livro e Leitura no Brasil – 2002 – com Regina Zilberman Como e por que Ler o Romance Brasileiro – 2004 Meus Alunos Não Gostam de Ler… O que Eu Faço? – 2005 Monteiro Lobato: Livro a Livro – 2008 – com João Luís Ceccantini Das Tábuas da Lei as Telas do Computador – 2009 – com Regina Zilberman Infantil e juvenil Destino em Aberto – 2002 Descobrindo a Literatura: A Maldição da Palavra Secreta – 2003 Biografia e correspondência Monteiro Lobato: Um Brasileiro sob Medida – 2000 Quando o Carteiro Chegou (Cartões-Postais a Purezinha) – 2006 Crônica Primeiro de Maio – 2009