Entre Lima Barreto e a Rua do Retiro

por Francisco Carbonari
Não sou um expert em literatura brasileira. Para mim, os livros se dividem em dois grupos: os que eu gosto e os que eu não gosto. Tenho meus preferidos, e entre eles ocupa lugar de destaque Lima Barreto. Já perdi a conta de quantas vezes li O triste fim de Policarpo Quaresma, romance que considero genial. Talvez alguns torçam o nariz diante dessa opinião, mas para mim, Lima Barreto está entre os melhores.
Foi lembrando dele que, dias atrás, ao passar em frente ao antigo Instituto de Educação, na Rua do Retiro, observando a movimentação dos alunos na saída das aulas, me veio à mente uma crônica sua, Tenho esperança que…, onde descreve os professores que marcaram sua vida.
Pensei nos meus. Estudei por 11 anos no Instituto, desde o primeiro ano primário até o terceiro científico. Muitos professores deixaram marcas na minha formação, e permanecem vivos na memória.
Recordo dos primeiros dias de aula, aos sete anos, quando achava que aprender a ler e escrever era impossível. Lá estava dona Zuleica, distribuindo a cartilha Caminho Suave, o caderno de caligrafia, o lápis e a borracha. Caneta, só no segundo ano — e tinha que ser tinteiro.
Mais tarde vieram outros mestres. O professor Geraldo, de Biologia, que me apresentou a palavra “ecologia” e me deixou atônito ao explicar as leis de Mendel com suas ervilhas. O professor Gustavo, de Matemática, que tinha o hábito de contar a história das descobertas antes de ensinar os conteúdos — e foi dele que ouvi falar pela primeira vez em Malba Tahan, com seus enigmas que nos desafiavam a pensar. Dessa matemática eu gostava. E havia ainda os professores Máfia e Vicente, das aulas de Educação Física ansiosamente aguardadas, na expectativa de uma bola
Essas lembranças me remeteram ainda a uma pesquisa feita pelo Instituto Porvir com alunos do ensino médio. Perguntados se gostavam da escola, a maioria respondeu que sim. Mas, ao questionar do que não gostavam, a resposta foi: da sala de aula.
Eu entendi. As melhores coisas da escola eram as excursões, as gincanas, os torneios esportivos, os festivais de música, a convivência com os amigos e, sobretudo, o aniversário do Instituto. No dia 11 de maio, a escola inteira se transformava em festa: atividades o dia todo, churrasco para todos, campeonatos, e o jogo mais esperado do ano — professores contra alunos.
Tudo isso formava um ritual que marcou profundamente minha juventude em Jundiaí. Tempos bons, que hoje sobrevivem na memória, mas que ainda enchem o presente de saudades. Ao lembrar do Instituto, fica a certeza da juventude bem vivida, dos amigos conquistados, das emoções partilhadas. E da presença da escola não apenas como cenário, mas como parte importante da minha história.