Marcia Lígia faz saudação ao novo Acadêmico

Discurso da acadêmica Marcia Lígia Guidin, titular da Cadeira 06 em saudação ao professor, jornalista e escritor Ricardo Viveiros, por ocasião de sua posse como Acadêmico Titular da Cadeira 30 da Academia Paulista de Educação. A posse ocorreu em 8 de novembro de 2023, no auditório da FIESP:
“Senhoras e senhores
Peço licença para me dirigir a todos, mas também ao confrade que recebemos hoje, Ricardo Viveiros de Paula, cuja eleição para ingressar nesta academia ocorreu com unanimidade e alegria. Viveiros ingressa, ocupando a cadeira 30, que teve como fundador José Bueno de Azevedo Filho e. como antecessora. a profª. Maria de Lourdes Mariotto Haidar.
Começo dizendo que Ricardo e sua família, a querida jornalista e tradutora Márcia Cárdenas Viveiros, e os meninos Felipe e Miguel, (hoje jovens lindos e bem formados) são meus amigos há mais de 20 anos.
Conheci Ricardo na Câmara Brasileira do Livro, a CBL, quando ambos trabalhávamos em prol do Prêmio Jabuti e, logo a seguir, fomos à Feira de livros em Frankfurt que naquele ano homenageava o Brasil. Lá nossa amizade se consolidou quando conheci sua disposição incansável como assessor de imprensa da CBL bem como sua dedicação à cultura e ao ensino através do livro e da leitura. Juntos, aliás, viemos a editar um livro muito especial, Sonetos escolhidos pelo grande poeta Paulo Bomfim. E me mantenho sempre sua leitora nos textos de crítica de artes plásticas e colunas de jornal.
Porém, para apresentar Ricardo Viveiros, se fosse eu ler seu currículo, levaria umas 8 horas, sem intervalo nem coquetel, dado o rol de trabalhos, homenagens, medalhas, honrarias, livros premiados e projetos educacionais . (Ricardo, você é um péssimo exemplo para o ócio e a indolência. Tentarei um resumo.
Ricardo Viveiros de Paula nasceu em 1950 no Rio de Janeiro. Foi menino de birncar na rua e viveu cercado de intelectuais. Dizem que todos os dias, aos 8 anos, ao voltar a pé da escola, passava pela casa do teatrólogo Paschoal Carlos Magno em Santa Tereza, onde via o entra e sai de atores e atrizes. Ficou tão interessado que resolveu entrar; e, aos 9 anos, cavou seu primeiro papel no teatro. (essa iniciativa é a cara dele).Essa convivência o fez ator, diretor e grande defensor das artes cênicas, tendo atuado com grandes nomes no Rio e no exterior.
Viveiros graduou-se na Escola de Comunicação e Artes Cênicas e do Estado da Guanabara. É jornalista com passagem por importantes veículos de comunicação escrita, emissoras de rádio e tevê. Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie ministra cursos em pós-graduação, já com 60 anos de carreira.

Márcia Lígia Guidin saudou o novo acadêmico que teve ao seu lado os presidentes da APE (Hubert Alquéres), da FIESP (Josué Gomes da Silva) e do Conselho Estadual da Educação (Roque Theóphilo)
Professor, historiador, escritor, palestrante, crítico e assessor de imprensa, Ricardo passou a viver e a trabalhar em São Paulo em 1976. É é hoje, um exemplo paradoxal de como ser um carioca- paulista. Há tempos recebeu o título de Cidadão Paulistano e, recentemente, a “Medalha Anchieta” com Diploma de Gratidão da Câmara Municipal por serviços prestados em comunicação. E o pior de tudo para uma palmeirense: dirigente, diretor e assessor do tricolor, recebeu o diploma de “Notório Torcedor do São Paulo Futebol Clube”.
Foi aqui em São Paulo que ampliou seus trabalhos e abriu sua empresa de comunicação, Ricardo Viveiros &Associados, uma das mais prestigiadas do país e que emprega muitos jornalistas.

Entretanto, a carreira de Viveiros foi interrompida nos anos de chumbo. Depois de participar de vários atos contra a censura na década de 1960, foi preso e torturado pelo regime militar. Seguiu para o exílio, onde trabalhou com pôde sempre na área da comunicação.
Ao voltar, na anistia, com seus direitos cassados, tentava recuperar o registro profissional – considerado nulo. Seu advogado não tinha como provar tantos anos de trabalho. A mãe de Ricardo, então, ciente da dificuldade, tirou de um armário álbuns com recortes, gravações e fitas do trabalho do filho. O pedido foi deferido pelo ministro Pazzianotto que, na época, declarou que o orgulho de mãe salvou seu registro de jornalista. Mãe é mãe, Ricardo!
Entre muitos outros cargos e tarefas, Ricardo tem sido professor em várias instituições de ensino, públicas e privadas: na Universidade Anhembi Morumbi, na ECA-USP, onde nos encontramos rapidamente. Foi membro consultivo do Centro São Paulo de Design e da Associação Brasileira de Comunicação, a Abracom. Em 2015, passou a integrar o Conselho Científico do Portal CBC, mantido pela cátedra UNESCO-UMESP da Escola de Comunicação da Universidade Metodista.
E agora no mês de outubro deste ano, emerge uma nova joia profissional de Viveiros: o dinâmico programa na TV Cultura – Brasil Mostra tua Cara, no qual ele entrevista pessoas com relevantes histórias de transformação e superação. Parabéns, Ricardo! Esse é um programa do bem para o bem — neste Brasil tão apagado em sua resiliência e solidariedade.
Desejo, ainda, iluminar uma vertente que me toca em particular e muito contribui para a educação e para a leitura. Falo de sua sensibilidade literária.
Dentre suas muitas obras de textos biográficos e históricos, emergem seus livros de poesia infantojuvenil. Vários de seus textos em prosa poética, Ricardo, são preciosidades. O primeiro livro, O poeta e o passarinho, é um libelo de amor, resistência e rara constituição poética. Nada pior existe que a perda de um filho; mas você transformou essa dor em arte poética superior. A seguir, no livro Saudade, com lindas ilustrações do Zélio Alves Pinto, você brinca, com as palavras saudade e amor, construindo um mundo em que todos vivemos muitos papéis, significados e sentimentos — trazendo seu leitor à raiz da memória: “Quem tem saudade não está sozinho”, diz o poeta Viveiros.
Emoldurado por esta linda festa, Ricardo, tenho certeza de que você, tão generoso em entrevistas, livros, trabalhos e aulas, contribuirá muito pela educação plena e de qualidade e pelos projetos culturais que esta academia propõe.
Nosso dístico, na medalha que você recebe hoje é “Ensinamos às crianças o saber”. Você sabe fazer isso, como pessoa que tanto pensa no bem comum.Cumprimentando-o junto com seus confrades de Academia, sei que vc fará da cadeira 30 sua mais nova companheira de trabalho. (Márcia, xará, se ele trabalhar ainda mais, a culpa não é minha, juro).
Obrigada.”