Seminário: “A Qualidade do Ensino Brasileiro e os Desafios para Atingir a Excelência”
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SEMINÁRIO “A QUALIDADE DO ENSINO BRASILEIRO E OS DESAFIOS PARA ATINGIR A EXCELÊNCIA”
- O evento foi organizado e patrocinado pelo CIEE por seu presidente executivo, Dr. Luiz Gonzaga Bertelli. Ocorreu no dia 23 de abril de 2012 e seguiu a seguinte programação:
- Às 9 horas, abertura solene, com Hino Nacional Brasileiro como Madrigal Sempre En Canto, sob a regência da maestrina Regina Kinjo.
- A seguir, houve pronunciamento do Dr. Rui Martins Altenfelder Silva, presidente do Conselho de Administração do CIEE e presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas.
O presidente refletiu sobre o nó da educação e falou sobre uma nova educação que deve estar diante de nós, porém argumentou que não encontramos ainda uma fórmula para “o nó” que, desde dom João VI, ocorre na educação brasileira. Em 1808, dom João VI tomou decisão equivocada, pois, em vez do curso básico, criou faculdades de direito; ou seja, formou doutores e depois, muito depois, pensou em alfabetizar. O presidente lembrou em seu pronunciamento que o Brasil tem 4 milhões de pessoas analfabetas puras, o que significa quase 10% da população brasileira. E o número de analfabetos funcionais é assustadoramente, muito maior. As médias do ENEM são, lamentavelmente, inferiores a 4,0. O que falta, encerra o presidente, é a vida pública e privada oferecer efetiva prioridade à estratégia de implementação de uma educação de qualidade. E, sobretudo, faltam investimento e formação de professores.
- Em seguida, houve o pronunciamento do Prof. Dr. Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente da Academia Paulista de Educação – APE – e presidente emérito do CIEE.
Em seu discurso, o educador falou da dificuldade para se falar da excelência na aprendizagem. O que seria excelência? Prefere focalizar o Ensino Médio, que é um grau muito problemático do sistema nacional de educação. No Ensino Fundamental, há vagas, isso é realidade (em 1964, havia apenas 50% de vagas para a totalidade das crianças).
Segundo o educador, alfabetizar é mais do que ler, escrever e contar. Há dificuldades que são insuperáveis, porque alfabetizar bem é dar uma visão de interpretação da realidade que cerca a criança, da filosofia ao mundo digital. Mas, se ainda hoje as crianças ainda não sabem ler, como poderão interpretar?
No Ensino Superior, sabe-se que há mais vagas do que alunos. A educação é comandada por duas leis: a LDB e a lei dos “comboios”, que quer dizer que a unidade mais lenta é que comanda o trabalho de mestres. Faltam ao Ensino Superior qualidade e pertinência. Devemos olhar outros países não para copiá-los, mas para compreender que os processos têm de ser de todos.
Quanto, finalmente, ao Ensino Médio, este deve ser mais diversificado e ser uma torre de sabedoria em que cada qual busca um saber específico. Isso não ocorre, pois a reprovação e o esvaziamento mostram o grande desinteresse do aluno. Ou seja, precisa-se de teoria, mas a prática é fundamental. Os cursos de educação, por exemplo, tratam de grandes temas e de certos autores, quando devem voltar-se para a formação objetiva do professor.
Paulo Nathanael se pergunta, afinal, se interessa aos donos do poder educar, e conclui afirmando que o grande culpado da má educação, em todos os níveis, é a ignorância que a escola não é capaz de reduzir.
- A seguir, falou o Professor Dr. João Grandino Rodas, atual reitor da Universidade de São Paulo – USP.
O professor . Grandino iniciou sua fala lembrando que a USP tem 89 mil alunos e que é do bolso dos paulistas que saem os 40 milhões de reais todos os meses para manter a universidade. Afirmou que devemos pensar mais nas faculdades desconsideradas, que são exatamente as de Licenciatura. É importante ver que nada se faz para o ensino brasileiro.
- A seguir, falou a Profª Maria Helena Bresser, que ofereceu um depoimento sobre o sucesso de sua escola, a Móbile, sediada em Moema, na cidade de São Paulo.
Segundo a diretora executiva, educar exige planejamento, pesquisa, metas claras e ousadia. O aluno precisa, numa escola séria, aprender a “ler”, e é isso que faz a Móbile. O planejamento cria para o aluno desafios, solicitação da competência e, desses desafios, o vestibular somente é um deles. O aluno deve ser inquieto e ativo politicamente, porém uma das características mais importantes da escola séria é ter professores qualificados e muito bem selecionados. Além disso, muito bem pagos. A escola exige a existência de boas condições de aula, ambiente limpo e silencioso, e as famílias têm que acreditar que o saber é fundamental. A educação de qualidade exige avaliação constante e, para isso, seria muito interessante se a Fuvest ou o ENEM oferecessem às escolas os dados das avaliações.
- A seguir, pronuncia-se o Professor Carlos Augusto de Maio, diretor da Escola Técnica Estadual de São Paulo – ETESP.
Segundo o Professor Carlos de Maio, há 202 ETECs e 52 FATECs no Centro de Ensino. O que é importante para as ETECs é o comprometimento da comunidade, manter um aluno autônomo e com espírito crítico, haver uma gestão democrática e participativa. A pedagogia das ETECs busca integração dos saberes, ou seja, a função teórica e a prática. Deve oferecer uma formação geral e para o trabalho, e preocupar-se com a educação em um mundo cheio de mudanças. As várias unidade escolares fazem análises dos indicadores das unidades escolares (ENEM) e orienta os observadores escolares. Do ponto de vista prático, representantes de classes e pais comprometidos oferecem grande sucesso. Ou seja, uma boa escola que dê boa educação precisa da retenção da informação, da percepção do significado, da articulação da informação e da mobilização do conhecimento.
- A seguir, pronunciou-se o Professor Mauro Sales Aguiar, diretor geral do Colégio Bandeirantes,
O diretor lembrou que lembrou que a escola, hoje com 68 anos, iniciou suas atividades com o nome de Liceu Panamericano. Seu fundador, Antonio Carvalho Aguiar, sempre teve um norte para preparar alunos para medicina, engenharia e advocacia. Esse norte era, e é ainda hoje, a meritocracia. A meritocracia é a vontade de ser melhor, pois esse é o mundo em que vivemos.
A escola, portanto, investe em conhecimento e autonomia e busca no aluno o mérito acadêmico. Investe também na capacitação de professores e na gestão da consciência e não da obediência dos alunos. A escola vive de tradição, pioneirismo e inovação. É especializada em adolescentes e o uso da tecnologia é de domínio natural para todos. O professor do Colégio Bandeirantes precisa ter orgulho de ser docente.
- A seguir, ocorreu o pronunciamento do Prof. Dr. Francisco Achcar, coordenador pedagógico geral do Colégio Objetivo.
Segundo o Professor Francisco Achcar, os pontos positivos que seus colegas levantaram são os mesmos que o Objetivo propõe ao corpo docente e ao corpo discente. O que ocorre é que o Ensino Médio vive um momento delicado, há uma crise sensível a mudanças de padrões culturais e nós, vítimas do MEC, ainda somos guiados por currículos do século XIX (Iluminismo), que, no século XX, já não funcionaram. O curriculum do Ensino Médio é enciclopédico.
Queremos menos conteúdos para ultrapassar a barreira do desinteresse. O Ensino Médio é massacrado pela Fuvest, ou seja, o vestibular é inteligente, mas o programa é burro; e, na verdade, nunca houve vontade de mudar. Com currículos inadequados, encontramos a raiz dos desinteresses de professores e alunos.
- Finalmente, encerra a solenidade o Acadêmico professor Arnaldo Niskier, Presidente do Conselho de Administração do CIEE/RJ e membro da Academia Brasileira de Letras.
Segundo o Prof. Niskier, na mesa predominou a visão da excelência educacional da escola privada, mas seria bom lembrar que o ensino público, seja Fundamental ou Médio, não está tão incapacitado como parece. O ensino público tem grandes professores, o que há é uma dicotomia entre o ensino púbico e o privado. O ideal seria, aproveitando a presença do reitor da USP, tirarmos deste encontro a ideia a USP liderar uma reforma para a capacitação do professor para qual faltam recursos. Pois os cursos são frágeis e os professores malformados.
- O evento encerrou-se com a entrega do livro História da Educação Brasileira: de José de Anchieta aos Dias de Hoje: 1500-2010, de autoria de Arnaldo Niskier a todos os presente.